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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Alguém como Tu - a vida nem sempre é como esperamos

Deixo-vos aqui, um capítulo completo, do meu livro "Alguém como Tu - a vida nem sempre é como esperamos". Espero que gostem.

CAPÍTULO 8 ^
"E ASSIM COMEÇA UM NOVO ANO. UMA NOVA ETAPA. UM NOVO CAMINHO!"

 Dia 31 de Dezembro, último dia do ano. Últimas horas. Altura propícia para gerar uma pequena reflexão, sobre este ano, que agora está a caminhar a passos largos para o seu último segundo. Devemos avaliar todas as emoções que vivemos, todas as alegrias surdas e estridentes, relembrar as tristezas e entender, como as poderíamos ter evitado, assistir como se a nossa memória fosse um ecrã de cinema às transformações que a nossa vida sofreu ao longo de todos estes trezentos e sessenta e cinco dias que passaram. Cada dia, para mim, é diferente, por mais monótono que possa ser. Uma reunião com amigos, um passeio ao volante de um carro a ver as paisagens, enquanto pensas para ti, o que poderás fazer para compor, ainda o que falta para reconstruir o castelo, que por um amor doentio desmoronou. Paciência, dedicação, amor próprio e sobretudo vontade férrea de vencer na vida, são os ingredientes para conseguires sobreviver neste mundo. Sobreviver e viver não são a mesma coisa. Sobreviver é um esforço para te sentires minimamente confortável com a vida que tens que viver, e viver é simplesmente a sensação de estar seguro, feliz, confortável e até calmo e sereno. Cheguei à conclusão que este ano, não vivi... sobrevivi! No primeiro segundo deste ano, que agora se aproxima do fim, quando desci do banco, nem me apercebi que entrei numa espiral. Comecei a andar às voltas levemente, até que quando cheguei a meio, a velocidade começou a aumentar, e aquilo que eu julgava ser a minha felicidade evaporou-se. Na realidade, a minha felicidade, ou a minha suposta felicidade, ficou presa no ano anterior a este. Este ano, foi uma luta constante, e tive dias de glória, por conseguir passar as horas de luz, sem aquilo que julguei ser o que me faria feliz para sempre. Porém, como hoje me apercebi, o tempo passa tão rápido, que há coisas que somos mesmo obrigados, a pôr de parte. E convenço-me agora, que a melhor acção, que fiz neste ano, foi abandonar-te! Afastar-te da minha vida! Desligar-me fisicamente de ti, já que emocionalmente ainda é um problema, que ficou pendente para se resolver no próximo ano. A cor da camisola que estou hoje a usar é da cor do sentimento que guardo dentro de mim, para acreditar que irei conseguir neste ano que se avizinha as coisas que neste não consegui. Principal objectivo: deixar de te amar e desprender-me de ti de uma vez por todas. Sinto-me, radiante com a minha prestação ao longo deste ano que passou, porque aquilo que tinha para fazer, fiz. O que tinha a dar, dei. E o que tinha a dizer, disse, mas sobretudo, o que tinha a ensinar e a aprender, ensinei e aprendi. A espiral, foi a estrada, na qual eu andei ao longo deste ano, as imensas curvas, fizeram-me tropeçar imensas vezes, caí inúmeras, chorei mas chorei muito, passei noites e dias a pensar que nada mais haveria de bom na minha vida, quis morrer quando a saudade e este amor louco que senti por ti me tocavam, a espiral deu tantas e tantas voltas, que cheguei a uma conclusão que ditou completamente a minha maior surpresa deste ano: lentamente estás a sair do meu coração, e a começar a desviar-te para outro caminho, que não é o meu. Como te disse certa vez: “As desilusões foram as responsáveis pelo fim do meu amor por ti”, nunca imaginei que esta frase se tornasse profética. Às vezes dizemos as coisas sem as pensar primeiro, contudo a vida, leva-nos aonde nunca imaginamos, e chegamos mesmo a perceber que se calhar uma frase dita sem sentido há uns tempos atrás, ditou uma profecia esquisita, mas boa. As mudanças deviam ser sempre para melhor, pena que aconteça o oposto.

 Estou contente comigo mesmo. É este a conclusão a que chego, ao final da minha reflexão ao ver o que este ano vivi. Lutei, sofri, ri, chorei, sorri, ajudei, caí, imaginei, concretizei, parei, avancei, vendi, comprei, afastei-me e aproximei-me, este ano fiz um pouco de tudo, e é notável o meu esforço, e notável também a forma como esse meu esforço, está a começar a dar frutos. Uma reflexão é sempre necessária, traz-nos ajudas, dicas e novas formas de encarar o mundo ou a vida, por vezes só podem surgir uma vez na vida, e temos que as agarrar. As lições são para ser escutadas, é um facto, mas melhor é serem aprendidas, para mais tarde não cairmos no mesmo engodo. Nem te sei dizer se já aprendi a minha lição, mas não estou com pressa em dar-te uma resposta, aprendera contigo uma lição importante: “O que tiver que ser será!”, por isso mesmo hoje em dia, não penso muito no dia de amanhã, e deixo-me pairar sobre o ar do dia de hoje. Porque no fundo é o hoje que importa, o amanhã já pertence ao futuro, e tentar dar uma importância ao dia de amanhã é errado. É como dar um tiro no escuro, e não saber para onde foi o chumbo.

 Estava deitado sob a minha cama, quando me deu uma súbita vontade de escrever. Já tivera feito de manhã a minha reflexão, mas não tinha feito ainda uma coisa muito importante, despedir-me de ti, pois faço questão de te deixar neste ano, que está quase, quase a ser ultrapassado.

Há coisas na vida que não têm explicação, há coisas que não podem mudar, ou não se consegue mudar, há pessoas que não devemos amar e mesmo assim amamos.
Sofremos por fazer coisas que não devemos, do género amar quem não nos ama, querer quem não nos quer. Às vezes mentimos para nos livrar-mos de alguma consequência, mas acabamos descobertos. Amar demais, querer demais, fazer demais, chorar demais, tudo demais é veneno! Meu veneno foi amar demais e chorar demais. Amar demais quem não me amava, chorar demais por quem não merecia. Sofri por cada erro e sua consequência e ganhei por te perder. Perder-te foi um ganho de certa forma, é como eu disse no começo "há coisas que não tem explicação", não dá p’ra explicar como ganhei, mas posso afirmar que ganhei, e muito. Estou certo de que tu nunca irás sentir a minha falta, embora eu ainda sinta a tua. Mas saudade passa, amor passa, solidão passa, demora, mas passa. Um dia tudo passa, por que afinal nada dura para sempre!
”.
 Foi este o texto que serviu como uma despedida à tua pessoa. Publiquei-o no meu Blog, com a esperança, não que o lesses, mas que muita gente percebesse, que realmente, a vida dá voltas e por isso mesmo nada é para sempre. Em tudo o que escrevo, tento dar conselhos, ajudas, e até tento dar dicas à vida de quem passe o mesmo que eu já passei. Tudo o que escrevo, ou o que escrevi até agora, foi em tua homenagem, e foste tu quem me inspirou, mas agora, que sinto que estás lentamente a sair do meu coração, que foi a tua casa durante anos, estou mais aliviado, e com uma maior esperança, de que é mesmo neste novo ano que te vou escorraçar da minha vida e do meu coração. Vou finalmente, voltar a ter aquilo que sempre me pertenceu, mas que estava em tuas mãos há muito tempo. O meu coração. O meu maior bem, porque é ele que me faz viver. É engraçado, há uns dias atrás, estava a cair aos bocados, mas confesso, que aquela conversa com a Dona Maria, me ajudou, e me fez renascer um sentimento leve como uma pena, que vagueia por cima dos meus sonhos, e os protege. Sinto-me leve, não solto. Porque ainda não tenho todo o meu coração, mas já o comecei a recuperar. É uma sensação indescritível, é algo estupendo, é um sentimento sem nome, é uma bênção de Deus, uma alegria extasiante.
 No final do ano passado, uns minutos antes da viragem do ano, veio à minha cabeça, uma frase, que escrevi logo no meu telemóvel e te enviei em seguida. Era um grande conselho. Era uma grande ajuda, e uma porta aberta, para começares a ser realmente feliz. Passo a citar essa frase, que me ficou presa na memória, como uma marca na minha pele.
 “Vive a vida sem reservas, sem medos. Pratica o teu desporto preferido. Torna-te fã, daquilo que detestas. Ama, quem te odeia. Aceita o pouco que tens e não aceites grandes ofertas. Bebe o cálice do amor. Aprende a amar. Ensina o amor. Esquece as lágrimas. Aborrece as tristezas. Desvia os maus caminhos. Emerge por entre as ondas que levam aquilo que amas. Sai dos locais onde possas ser infeliz. Viaja para descobrires o sentido da vida. Conhece o teu amor. Desfruta-o. Aprecia-o. Mas acima disto tudo ama-o. Tal como eu faço.
 Pouco tempo depois, quando escrevi, o meu primeiro livro, usei esta mesma frase, como a final. Porque acho que traduz bem, o caminho certo para ser feliz. Não dei o devido valor a esta frase este ano, mas guardei-a sempre no meu coração, e hoje veio à minha memória, para me relembrar que este ano, esta frase deve ser a minha chave para abrir o baú da felicidade, ainda tenho pena, que não tenha sido a tua chave este ano, quem sabe, não poderia ter sido tudo de uma maneira diferente. Mas pronto, o passado já passou, e não há maneira de o modificar, por mais que em certos casos, até tenhamos vontade de o modificar, porque achamos sempre que não foi o melhor. Mas aquilo que se julga como o melhor, tantas vezes, não o é, mas naquela altura pareceu-nos sê-lo. Não adiante chorar pelo leite derramado, não adianta perder o nosso tempo do presente, a relembrar o passado, não vale a pena amar, desejar, um sentimento ou uma pessoa, se para esse mesmo sentimento, ou essa mesma pessoa, o nosso sentimento e nós mesmos não somos nada nem ninguém. Não fui o teu sonho perfeito, nem o teu príncipe encantado, tentei sê-lo, mas não consegui alcançar o teu coração, até aqui tudo bem, mas não me conformo por me teres feito juras e promessas, que deitaste fora como se não valessem nada. E no fundo não valeram, da tua boca tudo o que sai, sai e pronto. Como disse a Catarina uma vez: “Estás à espera que uma criança deixe de brincar, só para começar a trabalhar no duro, e deixar o mundo dos sonhos? Deixa lá, um dia todos haveremos de perceber, que a vida não é só uma brincadeira, é também um grande trabalho”. É verdade, dá trabalho viver, muito por sinal, principalmente quando somos confrontados com o facto de vivermos com uma história platónica e proibida, como foi a nossa. Não soube lidar correctamente com esta realidade, e vi no mundo dos sonhos e da minha forte imaginação, a minha tábua de salvação. Fui estúpido, se tivesse aceitado a realidade naquela altura, provavelmente, teria gasto apenas umas semanas de sofrimento, e não os meses todos de um ano completo!
 Recebi, por volta das 13 horas e 30 minutos, uma mensagem escrita no meu telemóvel do Rúben, a marcar um encontro comigo, pois tem uma novidade de fim de ano bombástica para me dar, até já faço uma ideia, do que seja. Já conheço o Rúben, o meu melhor amigo, é o rapaz mais transparente que conheço. Aposto que a sua novidade bombástica de fim de ano é: fiz amor com a Catarina num lugar cujo o mapa não indica, e onde a cama e os cobertores não fizeram parte. Ele adora este tipo de aventuras, só não sei é se a Catarina iria alinhar numa coisa destas. É esperar para ver. Mas apostaria com quem fosse, que o que indiquei em cima é mesmo a novidade que ele tem para me dar! É, conheço os meus amigos, tão bem, que é como se fossem uma parte distinta do meu corpo. Cheguei, por volta das três da tarde, ao local combinado pelo Rúben, e como não podia deixar de ser além do lugar ser sempre o mesmo, o bar do campo de futebol da minha aldeia, ainda chegou um quarto de hora atrasado. Nada que não seja habitual. O Rúben, nestes aspectos, já não me consegue surpreender. Uma das coisas, que gostava em ti, e agora já nem sei se foi algo bom ou mau, era o facto de me conseguires surpreender. Nem sempre pela positiva, ou melhor, a maior parte das vezes que me surpreendeste foi por aspectos negativos, mas o que interessava, é que realmente me surpreendias. É muito difícil alguém me surpreender. Quando tentam, ou já sei o que vai acontecer, ou então não é nada que eu já não estivesse à espera. Claro, que como um bom actor que sou, disfarço, que fiquei muito surpreso, para não desiludir, quem por vezes tenta surpreender-me. O que conta, em tudo na vida, é a intenção, e não a acção, ou o resultado dessa mesma acção. Acho que para conseguirmos surpreender alguém verdadeiramente, é preciso ter-mos, imaginação suficiente, quem não a tem, provavelmente nunca irá conseguir surpreender alguém verdadeiramente. Os atrasos, os locais de encontro, as conversas sobre miúdas, e todas as barbaridades que de vez em quando o meu irmão emprestado faz e diz, não são de todo, uma surpresa.
 Enquanto aguardava pela chegada do “Boss Rúben”, sentei-me na esplanada do bar, embora o frio se fizesse sentir, e pedi um Ice Tea de manga, o meu sumo preferido, e pôs-me a olhar para a paisagem. O campo de futebol, está rodeado de uma floresta imensa, árvores para todos os gostos, pinheiros bravos e com algumas galhas já caídas no chão. Ouço o som das árvores e pinheiros, a deslizarem ao sabor do vento, que se faz sentir, olho para o imenso campo que a minha vista alcança, e está ali, há minha frente, a mais serena e bonita, paisagem de inverno. Para completar, a neve volta, e sem me aperceber, o piso começa a ficar na cor das nuvens, e a brisa começa a ficar cada vez mais fria. Quando estava já embalado e completamente deslumbrado, com a paisagem que agora passou a ser branca, sinto uma pancada na nuca, nem resmunguei, porque já sabia que esse é o cumprimento preferido do meu irmão emprestado.
 - Então brow?! – agora dá-me o segundo cumprimento, este mais normal e bonito que o primeiro, que é um aperto de mão e um abraço. Está feliz e contente, como é habitual.
 - Mais uma vez atrasado, não é Rúben?
 - Eish, desculpa lá mano, estive a ajudar o meu cota, a compor a garagem, para a festa de fim de ano que os meus cotas vão dar esta noite. Por falar, nisso a tua mãe, vai brow! Vamos passar o ano juntos.
 - A minha mãe vai? – questionei completamente surpreso.
 - Vai. Não sabias?
 - Não. Ela não me disse nada. Mas é bom, porque assim vou passar o ano contigo, meu irmão.
 O Rúben esboça um grande sorriso, mas em breves segundos, o seu sorriso vai-se esmorecendo, e fica com um ar de alguém que está noutro mundo, o rosto dele mostra alguma aflição, e sinto as mãos dele, entrelaçadas uma na outra, ambas a tremerem. Algo não está bem com o Rúben.
 - Que se passa, Rúben? – questionei, porque afinal, o meu irmão emprestado não está bem. Conheço-o tão bem, como conheço todas as frases de amor que já inventei, muitas delas dirigidas a ti, como bem sabes.
 - Mano, - enquanto soletra esta palavra, - tão bonita, porque não há nada melhor, que termos um amigo a tratar-nos como se fôssemos realmente da mesma família, e como se o sangue fosse o mesmo, - engoliu em seco – estou com um pequeno problemazinho.
 - Será que é assim tão pequeno?
 Para o Rúben, mesmo que um problema possa ser o mais grave, ou o mais sério, para ele, é sempre pequeno. Não gosta nada de dar grande importância à negatividade. E quer queiramos quer não, problemas pertencem ao grupo das coisas negativas.
 O Rúben sorrio. Foi um sorriso de compreensão. Porque ele sabe que o conheço tão bem, quase ou ainda melhor, do que ele próprio. Por exemplo antes dele saber que gostava da Catarina, já eu o sabia.
 - É um problema meu, e de outra pessoa ao mesmo tempo. Estou desesperado.
 - Queres contar?
 - Isso ainda se pergunta, mano?
  Nunca se sabe. Umas vezes, gostamos de partilhar com os nossos melhores amigos, as nossas alegrias e tristezas, outras em que preferimos guardá-las só para nós. Por isso, fica sempre melhor perguntar.
 - Eu e a Catarina. É este o problema.
 - Como assim? – inquiri, porque não estou haver qual será o problema deles. Quer dizer, se me perguntassem se eles namoram, eu não saberia o que responder. Mas eles lá devem saber o sentimento que os une.
 - Oh! Fomos muito irresponsáveis. Não devíamos ter feito o que fizemos desta forma. Não devíamos.
 Interpelei para mim mesmo, o que será que aconteceu. A conversa estava a ganhar um rumo para a confusão. Já não estava a perceber nada de nada, o Rúben percebeu, e finalmente me esclareceu.
 - Eu e a Catarina, fizemos amor. Mas não usamos protecção. E ela está no seu período fértil, a probabilidade de ela engravidar é elevadíssima. Meu, não estou preparado para ser pai, aos dezasseis anos!
 Não pôde deixar de ficar furioso com esta afirmação. Quer dizer, andam aí milhares de pessoas, a utilizar tantos meios, para alertar ao uso do preservativo, e este agora, não dá ouvidos aos conselhos, que são no fundo, importantíssimos para a segurança da nossa saúde, e da nossa vida.
 - Eu não acredito! Rúben, tu és um rapaz, com o conhecimento do valor do preservativo e não usas? Como é isto possível? – ergui o tom de voz, porque fiquei revoltado com a situação.
 - Oh irmão, quando o calor entre dois corpos é quase insustentável, e o desejo de possuir o corpo dela, se abate sobre mim, não consigo pensar em mais nada. Quando o fizemos, não era suposto fazermos, mas o desejo bateu tão fortemente, e não pensamos em mais nada.
 Há tantas pessoas que certamente, já passaram por esta situação. O desejo cega-nos, impede-nos de pensar, filtra-nos os conhecimentos, inverte a realidade, e gela-nos o cérebro. Os homens têm dois cérebros. O da cabeça e aquele que é no fundo o nosso órgão genital, quando o da cabeça não funciona, é o debaixo que pensa e que faz as coisas sem conhecimento, do que se está a fazer. O desejo, quando gela o cérebro de um homem, é o debaixo que começa a funcionar, e depois, não há nada que se possa fazer para o travar. Felizmente, eu uso os dois cérebros, nas alturas certas. A história do Rúben, no fundo é a história de tantos outros rapazes, que por um desejo delinquente, se entregam, e não olham para o que estão a fazer, e depois surpreendem-se, quando as namoradas, ou as raparigas das curtes, aparecem a dizer que estão grávidas, ou num caso mais grave, a dizer que têm um doença. Depois ficam apavorados. Já era a altura destes adolescentes saberem, que tudo o que se faz, terá uma consequência, no futuro.
 - O uso do preservativo Rúben, é importantíssimo meu. Não te devias ter descuidado dessa forma. Eu compreendo que o desejo consegue ser mais forte que tudo quando quer, mas tu também tens que aprender a controlar essas hormonas, e começar a usar o cérebro, quando fazes seja o que for. Sexo, é bom. Mas não trás só o prazer de quando se o faz. Trás outras consequências, que na tua idade, não são as melhores.
 Senti-me um “cota” a falar com o Rúben sobre este assunto. Às vezes os amigos podem ser irmãos mais velhos, ou até segundos pais. E, eu tentei fazer entender ao Rúben, que há coisas que depois de feitas se tornam irreversíveis e mudam a nossa vida para sempre. Uma gravidez da Catarina, iria mudar não só a vida dele para sempre, como iria comprometer o seu futuro, iria atrasar a sua vida toda. Não só a vida dele, como também a vida dela. Bem, quando recebi a mensagem dele, nunca pensei, que fosse um assunto assim tão grave.
 - O que é que eu faço irmão? – indagou o Rúben, como se eu pudesse dar uma resposta, que só ele pode encontrar dentro do seu coração.
 Mas tentei ajudar, da melhor forma que pôde.
 - Rúben, antes de mais, não vale a pena chorar pelo leite derramado. Agora, tu e a Catarina, têm que saber, se ela está ou não realmente grávida, e só depois de se saber o resultado, é que deverás pensar no que queres fazer. Ou melhor, tu e ela. Porque se ela realmente estiver grávida, tu vais ter que tomar, uma decisão em conjunto com ela. Serviste para fazer o filho, também hás-de servir para a apoiar.
 - Ela disse-me, que amanhã, ia comprar um teste de farmácia, para ver se estava realmente grávida, e que mal soubesse o resultado me diria.
 - Preservativo, pílulas normais e do dia seguinte, há tantas formas de poder evitar-se uma gravidez, mas uma doença sexualmente transmissível não, Rúben. Depois de estar feito, não há nada para se poder voltar atrás. Numa gravidez, pode-se recorrer ao aborto, mas numa doença que pode provir de uma relação sexual não.
 - Eu sei, eu sei. – proferiu estas palavras, com um grande peso na garganta. Realmente deve esta desesperado, e sem norte na sua vida.
 - Mas independentemente, do resultado do teste da Catarina, quero que saibas que estarei aqui, como estive até agora, meu irmão.
 O Rúben aproxima a sua cadeira da minha e dá-me um grande abraço, sussurra-me um obrigado ao ouvido, e eu passo-lhe a mão sobre a cabeça, como se o erro dele, não o tivesse comprometido, ou mudado a vida dele.
 Quando cheguei à porta de minha casa, vi o carro do meu pai, e acelarei o passo, para o ver. Já não via o meu pai há uns dias, e confesso que até já tinha saudades dele. Quando abri a porta, vi o casaco preferido dele, que por sinal, fui eu quem lhe ofereceu, pendurado no hall da entrada, dirigi-me à sala de estar, onde a lareira se encontra acesa, cujo calor se propaga até ao hall da casa. Quando entro na sala, encontro o meu pai de costas para a porta e de frente para a lareira, meio cambaleante dirijo-me a ele, e tapo-lhe os olhos.
 - Filho! – diz-me ele com aquela voz de anjo. Tiro as mãos dos seus olhos, e ele vira-se em minha direcção e dá-me um abraço apertado. É bom sentir, o abraço do meu pai. Apesar de ele ter feito a minha mãe sofrer de uma forma, tão forte e descontrolada. Mas decidi pôr esses momentos no passado, e dar uma oportunidade ao meu pai. Afinal, pai é pai, e faça ele o que fizer nunca o vai deixar de ser.
 - Tu por cá pai?
 - Sim filho. Os pais do Rúben convidaram-me a ir passar a casa deles a viragem do ano.
 - Ah, que bom. Eu e a mãe também vamos. Por acaso não sabia até à pouco. Foi o Rúben que me disse.
- Achas que a mãe, vai querer vir comigo?
- Ai pai! Vou ser sincero como sempre fui, não esperes que se ela for, esteja a teu lado, como um casal normal, até porque vocês já não são um casal.
- Eu sei, meu filho. Mas...
 A minha mãe chega, e interrompe o discurso do meu pai. Dirige-se a mim, dá-me um beijinho na testa.
- Filho, tenho uma novidade para ti.
- Sim mãe, já sei. Vamos passar o ano a casa dos pais do Rúben.
- Como sabes? – perguntou ela com uma cara de surpresa. A minha mãe já deveria saber, que os filhos podem não contar tudo aos pais, mas aos amigos contam.
- O Rúben disse-lhe! – o meu pai intrometeu-se na conversa, para tentar chegar à minha mãe, mas ela não lhe dá hipóteses.
- Hum, muito bem. Vai-te lá vestir, filho. Porque vamos jantar também a casa do Rúben.
 Saí de cena. Os meus pais ficaram os dois imóveis a olharem um para outro, quem sabe a relembrar, os anos que passaram juntos, com todos os bons e maus momentos. Também sonho construir um amor como o que eles viveram, não contigo, porque já percebi que felizmente ou infelizmente a minha felicidade não passa por ti. Já passou, mas agora já não passa, nem voltará a passar.
 Há já umas semanas, que não te vejo, que o meu coração anda sossegado por saber que não há hipóteses de te encontrar. Nem que para isso tivesse que sair da cidade, onde tínhamos obrigatoriamente que nos encontrar sempre. Tomei essa decisão, porque tive plena consciência, que o melhor era afastar-me. Há alturas na vida em que não há outra alternativa senão o afastamento. Afastei-me do teu corpo e de ti, com medo de sentir as agulhas a percorrerem o meu coração, cada vez que te via. Sentia o meu coração a saltar como nunca outrora saltou. Descontrolaste o meu batimento cardíaco, e vivia consoante as emoções que me ias fazendo viver. Podes orgulhar-te. Já tiveste a vida de um ser humano sob o teu máximo controlo. Nem toda a gente se pode gabar de uma proeza dessas.
 Faltam umas horas, para a viragem de um novo ano. O meu pai conduz o carro, e a minha mãe está ao seu lado, e eu, como qualquer filho vou no banco de trás, olhando por detrás do vidro embaciado, relembrando os bons momentos, de quando ainda tinha uma família normal, o teu amor ou a tua amizade, de quando tinha uma felicidade, ou um mínimo motivo para sorrir. Irónico ver o quanto as coisas mudaram ao longo de trezentos e sessenta e cinco dias. Tenho plena consciência, que os próximos trezentos e sessenta e cinco dias, irão ser de biliões de mudanças, desta vez, espero que para melhor, como é óbvio. Enquanto vou a olhar a paisagem sinto o meu telemóvel a tremer no bolso das minhas calças de cinta descaída, que o meu pai diz ser “a vergonha autêntica”, ou a minha mãe que diz “parece que nem tens rabo”! Pego no telemóvel, e vejo uma mensagem de um número desconhecido. Fico um pouco surpreso e ao mesmo tempo nervoso. Não gosto de todo, receber mensagens de números que não me são conhecidos. Abri a mensagem, que dizia: “Espero muito sinceramente que este ano, em que vamos entrar, te dê e te traga o que este não te trouxe. Uma boa passagem. São os meus votos para ti”. O meu coração acelerou o ritmo, as pernas ficaram paralisadas, a respiração tornou-se ofegante, os olhos azuis inundaram-se, os braços ficaram imóveis. Será que este número desconhecido era teu? Será que foste tu que enviaste esta SMS? Porém, passados uns segundos, voltei a mim e tomei consciência, que certamente não serias tu. Não te lembraste de mim ao longo de meses, não ia ser hoje, que o irias fazer. Nem tentei saber, de quem era o número, muito pelo contrário, apaguei a mensagem, e fingi que nunca a recebi. Decidi enviar uma mensagem à Catarina, a dizer que já sabia, da sua suposta gravidez, e deseja-lhe um bom ano novo, e claro muita sorte para o teste que iria fazer no dia a seguir. Mandei outra à minha irmã emprestada (à Inês), desejei um bom ano, e que o sonho por o qual ela lutava se tornasse real neste novo ano. Ela sabe que entrar no mundo da televisão é algo complicadíssimo, mas nunca desistiu. Já fez vários castings, mas o máximo que conseguiu, foi uns anúncios de publicidade, e uns catálogos de moda. Ela sabe, que tudo o que já conquistou, foi devido ao seu esforço, e está disposta a esforçar-se mais. Eu também tinha curiosidade em experimentar representação, desde sempre sonhei em conhecer o mundo da televisão por dentro, saber o que está por detrás das câmaras, contudo, nunca fiz nada para que isso se tornasse real. Quer dizer, tentei uma fez, uma pré-inscrição, para um casting da série juvenil mais famosa em Portugal: “Morangos com Açúcar”, ainda recebi uma resposta, que pronunciava o facto de eu ter habilitações para integrar o elenco, apenas tinha que me deslocar à agência. Só que o pior era arranjar transporte e estadia. Como ia eu para Lisboa, sozinho e sem um tecto? Seria com certeza uma grande aventura, e gostaria de a ter vivido, mas pronto desisti. É. Desisto facilmente das coisas. De ti, não foi facilmente, só desisti quando a loucura estava a atingir-me num grau descontrolado. Antes esquecer-te, que ficar louco e internado numa clínica de psicopatas. Nada contra, atenção. Mas há coisas que se devem evitar. E eu gosto muito de estar lúcido.
 A vida ou tu com as tuas atitudes de desamor, ensinaram-me e estão a ensinar-me a aproveitar o presente, como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesmo tenho que lapidar, dando-lhe forma da maneira que eu escolher. Devo, com certeza ter muitos motivos para te agradecer. O amor faz-nos crescer, e tu certamente que me fizeste evoluir e crescer.
 Cheguei por fim a casa do Rúben, para surpresa das surpresas, encontro lá o Ricardo, o rapaz em quem eu te falava muitas vezes, que só pensava em arranjar namorada, mas quando tinha alguma interessada nele, ele achava sempre que ou era feia, ou então não era a ideal. Curtia muitas vezes com várias raparigas, que bem, vou ser sincero, eram desprovidas de beleza. De corpo safavam-se, mas de cara é melhor nem comentar. Fui juntamente com o Rúben e com o Ricardo jogar PlayStation, escolhemos o Buzz, para podermos jogar os três, eu escolhi com habitual a cor laranja, o Rúben ficou com a azul, e o Ricardo com o verde. Senti, algum desconforto no olhar do Ricardo. Algo se passa com ele. As horas vão passando num ápice, como se o tempo voasse, e fosse dirigido pela força do vento, e quase de um momento para o outro, já está a minha mãe e a do Rúben à porta do quarto, a dizer-nos que falta apenas uma hora para o fim do ano. Uma hora! O que é um hora? Nada.
-       Estás bué estranho, Ricardo! - exclamei eu, porque a forma de estar do Ricardo, não estava a ser a mesma, que desde sempre ele habituara as pessoas que se relacionavam com ele.
-       Depois explico-te, meu. Mas depois. - indagou numa voz suave, algo esquisito, que ele é mesmo muito dado à gritaria, de vez em quando, tratava-o por “peixeiro” pela forma como ele a falar gostava de dar nas vistas.
-       Ah! Eu não posso saber, é isso, ó estupor! - pronunciou o Rúben, um pouco alterado. Ou melhor, fingindo-se alterado.
-       Não é nada disso. Depois digo-vos o que se passa. Agora não quero nem posso falar sobre isso. E, vamos mazé, continuar a jogar, porque quero sentir, o vosso gostinho de derrota, quando eu vos ganhar mais uma vez! - e ri.
-       Veremos! - prometemos eu e o Rúben ao mesmo tempo.
-       E então Ricardo, andas com a Jéssica? - questionou curiosíssimo o Rúben.
-       Não. Porquê?
-       Vi-te aos beijos com ela na escola, uns dias antes das aulas terminarem!
-       Ah! - sorrio – Foi só uma curte, nada de mais, Rúben!
 Senti um peso nas palavras do Ricardo. Senti que cada palavra que ele pronunciava lhe pesava na cabeça e provavelmente no coração. Mas o que será que se passa com este rapaz? Ele está mudado. Ele não é o mesmo de há uns meses atrás. Esta sua mudança de humor e de posição perante a vida, causou-me um sensação de incógnita, que eu tenho que descobrir, seja como for, e de que maneira for.
 Faltam apenas cinco minutos para a passagem. A champanhe está sobre a mesa, onde se encontram também, muitas iguarias. Sonhos, rabanadas, alguns salgados, sumos, whisky, licores de todas as cores e sabores, o tradicional bolo-rei, e claro o imprescindível sobre qualquer mesa na noite de passagem de ano. As passas! Sou muito tradicional e retrógrada em alguns aspectos. Aquilo que é tradicional nas festas populares e o que provém de há muitos anos atrás, e ao qual a minha família está habituada a lidar, eu tento fazê-lo de igual forma. As passas, os boxers azuis, subir com o pé direito para cima do banco, os doze desejos, nada disso eu deixo escapar antes das doze badalas se passarem. Pode parecer ridículo, mas tento ter esperança que ao fazer isto, o ano me corra melhor. Só não sei, o que foi que no ano passado fiz de errado ao longo da contagem dos doze segundos. Mas seja lá o que eu tenha feito de errado, não tenciono de modo algum, voltar a cometer uma falha que comprometa o bom decorrer dos meus próximos trezentos e sessenta e cinco dias.
 Um minuto. Faltam apenas sessenta segundos. É altura de subir o banco. Prepara as passas. E os homens, mais velhos preocupam-se em abrir as garrafas de champanhe. A televisão está ligada, à espera que se comece a prosseguir à contagem decrescente. Olho para a minha mãe e para o meu pai, dou-lhes um beijo, num gesto delicado, dou a mão ao Rúben que está ao meu lado, com o seu sorriso comum, e o Ricardo encontra-se no banco à frente do meu e do Rúben. A apresentadora do programa que está a ser transmitido na televisão, está a prosseguir de igual forma, à minha. O coração começa a sentir ansiedade. As palpitações vão sendo maiores a cada segundo que passa.
 Doze, onze, dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um... e feliz ano novo! Tomo atenção, quando desço do banco, com que pé o faço. Tem que ser com o direito, e quando saio a porta de casa para ver o fogo-de-artifício, saio também com o pé direito. Óptimo, desta vez estive atento a todos os pormenores, não deixar escapar nada, e fiz todo certo. Este ano vai correr-me bem! A primeira mensagem que envio neste ano novo, é para a Inês e Catarina, como é óbvio. Dou um abraço super apertado e forte ao meu irmão emprestado, que sei que independemente dos azares ou alegrias que a vida me traga, estará sempre ao meu lado, e posso garantir-te, que é uma amizade inabalável, a que eu e ele temos. Mentir-te-ia, se te dissesse que eu e ele nunca nos zangamos ou discutimos, como somos muito diferentes um do outro, discutimos imensas vezes, há semanas, que as discussões acontecem a todos os dias e a todas as horas, mas como a nossa amizade é verdadeira, passamos por cima disso tudo. Conseguimos, através de acordos conjuntos, manter uma amizade equilibrada. Com algumas cedências parte a parte. No fundo todas as relações, sejam elas com pessoas iguais ou opostas, têm que ter sempre uma cedência. Um faz isto, o outro faz aquilo. Por exemplo, eu vou com ele aos jogos de futebol, e ele vem comigo ao cinema, eu ajudo-o, e ele dá-me mais atenção. Enfim, coisas assim do género, que fazem com que apesar das diferenças a nossa amizade já resista à sete anos. É uma trapalhada os primeiros segundos do ano, tens que cumprimentar este e aquele, e ao mesmo tempo estares atento, ao que fazes. É uma complicação. A minha mãe estava zangada comigo, porque desci do banco e nem a cumprimentei. Meti o pé na argola, mas para compensar dei-lhe um beijo longo e um abraço como tantas vezes te dei a ti. Depois fugi dos braços da minha mãe, para os braços do meu pai, desejei-lhe muita sorte e felicidade neste novo ano, ele respondeu-me num tom meigo e delicado, que a felicidade dele era eu, e a minha mãe, e que bastava ver-nos aos dois bem, para ele ser feliz. Desde que os meus pais se separaram, o meu pai ficou muito filosófico. Diz cá com cada coisa, às vezes deixa-me sem palavras, e emocionado. Sabes que me emociono facilmente. Como diz o Rúben vezes sem conta: “És mesmo o meu irmão sensível”, e tem toda a razão. A festa é animada. À música tradicional portuguesa, à gente a rodopiar pela sala, os casais beijam-se, os amigos abraçam-se, e assim começa um novo ano. Uma nova etapa. Um novo caminho. 

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