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sábado, 23 de novembro de 2013

Uma declaração de amor

EU – Eu vim aqui, ter contigo, porque tenho uma coisa muito importante para te contar. Uma coisa que vai mudar tudo.
TU – E que coisa é essa de tão importante que tu tens para me contar?
EU – Ao longo de todos estes anos, praticamente desde o primeiro dia em que eu te conheci, que tenho andado a camuflar sentimentos, e asfixiar-me com tudo o que sinto, e percebi que isso está errado. É a hora de abrir o jogo contigo. Eu sempre estive apaixonado por ti! E por esse amor, que hoje sei é não correspondido, eu suportei imensa coisa. Engoli sapos atrás de sapos, aceitei ilusões, perdoei erros e mentiras, dei inúmeras segundas oportunidades, corri riscos, ouvi os teus desabafos quando estavas arrasada porque a pessoa que tu amavas não te queria, dei força para lutares por esse teu grande amor, dei-te conselhos e ainda escutei da tua voz várias vezes as tuas aventuras sexuais com outros quantos. Sem tu saberes, o quanto me doía o peito quando tudo isto acontecia. Aguentei tudo isto calado. Os meus pais não me queriam junto a ti, e mesmo assim para ir ter contigo, eu mentia. Dava desculpas falsas para sair. Dei tudo por ti. Mas acima de tudo, dei-te o meu coração, o meu mundo, o meu amor. Quando necessitavas eu dava um jeito qualquer de te dar tudo o que querias, nem que isso significasse eu ficar sem nada. Eu sempre soube que não havia qualquer hipótese entre nós dois. Mas mesmo assim, e sem saber bem porquê, eu acreditava, eu continuava a ter esperanças, eu sonhava mais um pouco. Passei dias e dias a chorar por estares ausente da minha vida. Rezei pela tua felicidade com o teu namorado, mesmo tu me excluindo da tua vida. Passei horas a olhar para o horizonte e para o meu telemóvel á espera de uma notícia ou de um sinal teu. Vivi madrugadas geladas, com o sabor das lágrimas e a melodia dos soluços. Fiz promessas a Deus, para te esquecer! Nunca me quis apaixonar. Aliás eu era daquele tipo de rapaz que não queria namorar. Não ligava nenhuma ao amor. Porque tivera sempre me dado mal. Todas as vezes que me apaixonei, acabei a sofrer. Mas aí, apareceste tu do nada, e mudaste a minha vida toda. Eu nunca te contei isto, porque tinha medo da tua reacção. Medo de perder a tua amizade.
TU – E então porque o estás a contar agora?
EU – Porque agora eu não consigo mais disfarçar e aguentar tudo isto. Já não consigo disfarçar o incómodo quando falas que estás apaixonada por um tipo qualquer, já não consigo ouvir as histórias das tuas curtes, já não consigo esconder mais. É por tudo isto que faço cenas, que vivo com ciúmes, que discuto contigo sem tu perceberes porquê. Porque a dor já é tanta, que já nada a alivia. Nem mesmo o choro. Nem mesmo os gritos do alto da montanha que tantas vezes subi por este amor. Tens noção de quantas vezes eu caminhei pelos campos, ribeiras, estradas vagueando como uma pétala a esvoaçar sem lugar certo onde poisar? Com os olhos inundados com tanta dor, causada pela rejeição, outras vezes pela saudade? Eu esforcei-me durante anos para te esquecer. Mas aí, vinhas tu com o teu “amo-te amor”, que me alimentava a ilusão e tudo voltava à estaca zero.
TU – Estás a culpar-me por uma coisa que eu nem sabia?
EU - Não! Não te culpo de nada. E em relação ao não o saberes, só não o sabes porque nunca estiveste com atenção aos pequenos detalhes, ás pequenas coisas. Estava tudo lá. Tu é que nunca viste! Eu mandei indirectas, eu declarei-me várias vezes. Eu atirava-te ondas de amor com a desculpa de ser como amigo. Bastava olhares para os meus olhos, e veres como eles brilham quando tu estás perto. Quando te vejo o meu coração acelera. O meu corpo treme de cima abaixo. E muitas vezes a minha reacção é fugir. Fugir de ti, e desta sensação de impotência que muitas vezes se abate sobre mim. Depois de todas as vezes que fui rejeitado por outras paixões, eu cresci, e jurei nunca me entregar. Eu sempre pensei que não tivesse sido feito para o amor. Tantas vezes eu me pergunto: “porque é que eu deixei o meu coração abrir-se para ti?”. Porquê?!? Eu não queria. Eu juro que eu não queria. Eu nunca quis. Eu apaixonei-me por ti. Por ti eu mudei. Por ti eu tornei-me outra pessoa. Por ti eu passei a gostar de coisas que antes eu detestava. Eu aprendi a esperar por ti todos os dias. E eu esperava com calor no coração. Quando tu dizias que me amavas, que querias ficar comigo, que eu era a tua vida, a tua paixão, eu ficava inundado de tanta alegria.
TU – Eu também mudei perto de ti. Perto de ti eu aprendi a nunca desistir. Tu ensinaste-me a lutar. Tu ensinaste-me a amar. Tu ensinaste-me as melhores coisas da vida, apesar de tudo!
EU – Tu fizeste-me descobrir um sentimento que eu tinha dentro de mim e que eu não conhecia. Mas isso agora não adianta de nada. Se tu não correspondes a nenhuns dos meus sentimentos? Eu estava a construir uma casinha dentro do meu coração, mas tu derrubaste todas as fundações. Nós não podemos ligar e desligar os sentimentos. Se nós pudéssemos controlar os sentimentos era tudo mais previsível. Durante todos estes anos, eu nunca desisti de ti. Eu amei-te sempre. Sempre! Eu acreditava que nós íamos ficar juntos. Mas tu desapontavas-me sempre. E eu ficava perdido, desesperado, eu quase enlouqueci. Eu amo-te. Nunca deixei de te amar. Nunca. Nem um minuto sequer. Nem um segundo. Mesmo quando tu destruías os meus sonhos com as tuas confissões amorosas. Lembraste de me teres dito que bastava quereres que conseguias dar-me a volta e ter de mim tudo o que querias? Isso só acontecia porque eu te amava. Porque eu não sabia como convencer-me a virar costas à pessoa que mais amava na vida.
TU – Porque tudo isto agora?
EU – Porque eu tenho que seguir o meu coração. Aliás era tudo o que eu deveria ter feito desde o início. O coração tem sempre as respostas certas. Hoje estou aqui, a seguir o meu coração. Eu gostava que tu acreditasses que o meu amor é verdadeiro, porque é nisso que eu acredito. Desde que nos conhecemos, desde que nos separamos… desde sempre. E por isto é que eu esperei por ti. Eu fazia tudo por ti… só precisava que me amasses um bocadinho. Só um bocado. Mas durante todo este tempo eu percebi que nós somos aquilo que vivemos. Nós somos os nossos sentimentos. Se conseguires que o amor seja o grande sentimento do teu coração, resistes a tudo. Talvez por isso, eu tenha resistido durante tantos anos, a tudo isto… Porque o amor é a maior força e o maior sentimento. 

TU – Espero um dia conseguir amar alguém como tu me amaste.


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