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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Ribeira das Lágrimas



  Nestes últimos dias tenho-me recordado amiúde, da montanha que escalei há uns anos atrás. Recordo-me do dia em que alcancei o seu auge pela primeira vez. Foi logo depois de te encontrar aos beijos com outro rapaz na biblioteca da escola. Esse foi um dos momentos em que senti o mundo a ruir nos meus pés. Fugi o mais rápido que pôde. Depois, quando por fim, cheguei à minha terra, sem vontade de ir para casa, decidi vaguear pela floresta, até que encontrei essa montanha. Lembro-me que a brisa era fresca, o céu estava nublado, e o frio de Inverno fazia-se sentir com uma aragem gélida. Antes de escalar a montanha, fiquei a ouvir o som da água a correr sobre a pequena cascata, que ficava ao lado dessa mesma montanha. Lembro-me dessa montanha, porque a visitei, ainda em catraio, com a professora e colegas do jardim-de-infância. A história dessa montanha tocou-me de tal maneira que ainda hoje, não a esqueço. Segundo a lenda, a pedra que simboliza a montanha, que tem um risco ao meio, que separa a pedra em duas partes, abriu-se há muitos anos atrás para acolher Nossa Senhora de Fátima. Nunca mais esqueci essa história, e acho graça à pedra.
  Quando escalei a montanha pela primeira vez, e cheguei ao cimo da pedra, começaram a cair umas pingas de chuva, a visão era linda, e o vento que soprava na minha direcção fazia com que os meus soluços fossem escutados para além do horizonte que a minha vista alcançava. Tinha o coração gelado depois do que tinha visto uns momentos antes de ter chegado à montanha. Quase sem forças, deixei-me cair sobre a pedra. Fiquei de joelhos, a olhar um pequeno buraco com água que estava ao meu lado, a olhar o meu reflexo, ganhando forças para gritar aos sete ventos, que te amava… e fi-lo, mesmo sendo uma loucura. Era uma loucura amar-te, sempre o soube.
   Nessa tarde, no cimo da montanha, ajoelhado sobre aquela pedra “dos milagres”, abandonado ao sabor da corrente, chorei muito, gritei imenso e foi aquele, o primeiro dia em que tive a coragem necessária para te evitar.
  Uns meses mais tarde, encontrei outro refúgio para me abrigar nas horas mais tristes. Como precisava imenso de me abstrair, ia dando umas caminhadas pelas ruas e campos da aldeia. Acabei por descobrir este sítio encantador. Uma ribeira, com um enorme campo verde, rodeado de árvores. Lá só existe o som dos pássaros a chilrear, e a água a correr na ribeira. Refugiei-me lá inúmeras vezes. A primeira vez, ainda me refresquei no pequeno lago que a ribeira proporciona. Depois, encostei-me à beira da Ribeira, e indaguei sobre o meu próprio destino. Há muito que tinha deixado de esperar fosse o que fosse do destino.
  Antes de abandonar o meu “pequeno paraíso”, baptizei-o de Ribeira das Lágrimas. Sabia que aquele ia ser o cenário escolhido para as cenas dramáticas dos próximos episódios. E foi.
  Há já algum tempo que não vou até lá. A última vez que lá estive, foi na tarde, em que me confessaste que tinhas ido para a cama com um fulano qualquer. Essa tarde foi horrível. Cheguei à Ribeira, encostei-me de novo à sua margem, e implorei que a água arrasta-se consigo todo o amor que nutria por ti. Lavei-me, e desejei com toda a força, que renascesse ali um novo eu, da qual tu não fizesses parte. Aquela água, levou muitas lágrimas minhas. Naquela tarde senti-me tão frustrado, revoltado, decepcionado, magoado, injustiçado, que todos esses sentimentos originaram numa avalanche de lágrimas. Chorei imenso. O que já era habitual.
  Acabei essa tarde, enfiado no chuveiro. Enquanto a água corria sobre mim, e levavam as minhas lágrimas salgadas pelo esgoto, pensava o que poderia eu fazer para mudar o destino. Questionava-me se valeria a pena, ir contra o destino. E senti-me mal, por ter percebido de forma tão nítida, tudo aquilo ao qual fechei os olhos inúmeras vezes durante os últimos anos: tu não me amavas, era simples.
  Depois do duche, vesti o meu velho pijama azul, o mesmo que me acompanhou em noites frias, a beber chá na varanda, a esperar algo teu. Quem sabe, apenas um simples mensagem. Era esperar demais de ti. Há muito que me tinhas posto de parte da tua vida. Há muito que tinha ficado de fora dos teus interesses, das tuas escolhas.
  Segui para a cama, onde adormeci, uns minutos depois do sol se pôr. Precisava de descansar a cabeça, que me doía. Uma dor tão forte, mas mesmo assim, mais suportável do que aquela que me causaste, com a novidade que me tinhas dado umas horas antes…  


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