EU
–
Eu vim aqui, ter contigo, porque tenho uma coisa muito importante para te
contar. Uma coisa que vai mudar tudo.
TU
–
E que coisa é essa de tão importante que tu tens para me contar?
EU
–
Ao longo de todos estes anos, praticamente desde o primeiro dia em que eu te
conheci, que tenho andado a camuflar sentimentos, e asfixiar-me com tudo o que
sinto, e percebi que isso está errado. É a hora de abrir o jogo contigo. Eu
sempre estive apaixonado por ti! E por esse amor, que hoje sei é não
correspondido, eu suportei imensa coisa. Engoli sapos atrás de sapos, aceitei
ilusões, perdoei erros e mentiras, dei inúmeras segundas oportunidades, corri
riscos, ouvi os teus desabafos quando estavas arrasada porque a pessoa que tu
amavas não te queria, dei força para lutares por esse teu grande amor, dei-te
conselhos e ainda escutei da tua voz várias vezes as tuas aventuras sexuais com
outros quantos. Sem tu saberes, o quanto me doía o peito quando tudo isto
acontecia. Aguentei tudo isto calado. Os meus pais não me queriam junto a ti, e
mesmo assim para ir ter contigo, eu mentia. Dava desculpas falsas para sair.
Dei tudo por ti. Mas acima de tudo, dei-te o meu coração, o meu mundo, o meu
amor. Quando necessitavas eu dava um jeito qualquer de te dar tudo o que
querias, nem que isso significasse eu ficar sem nada. Eu sempre soube que não
havia qualquer hipótese entre nós dois. Mas mesmo assim, e sem saber bem
porquê, eu acreditava, eu continuava a ter esperanças, eu sonhava mais um
pouco. Passei dias e dias a chorar por estares ausente da minha vida. Rezei
pela tua felicidade com o teu namorado, mesmo tu me excluindo da tua vida.
Passei horas a olhar para o horizonte e para o meu telemóvel á espera de uma
notícia ou de um sinal teu. Vivi madrugadas geladas, com o sabor das lágrimas e
a melodia dos soluços. Fiz promessas a Deus, para te esquecer! Nunca me quis
apaixonar. Aliás eu era daquele tipo de rapaz que não queria namorar. Não
ligava nenhuma ao amor. Porque tivera sempre me dado mal. Todas as vezes que me
apaixonei, acabei a sofrer. Mas aí, apareceste tu do nada, e mudaste a minha
vida toda. Eu nunca te contei isto, porque tinha medo da tua reacção. Medo de
perder a tua amizade.
TU
–
E então porque o estás a contar agora?
EU
–
Porque agora eu não consigo mais disfarçar e aguentar tudo isto. Já não consigo
disfarçar o incómodo quando falas que estás apaixonada por um tipo qualquer, já
não consigo ouvir as histórias das tuas curtes, já não consigo esconder mais. É
por tudo isto que faço cenas, que vivo com ciúmes, que discuto contigo sem tu
perceberes porquê. Porque a dor já é tanta, que já nada a alivia. Nem mesmo o
choro. Nem mesmo os gritos do alto da montanha que tantas vezes subi por este
amor. Tens noção de quantas vezes eu caminhei pelos campos, ribeiras, estradas
vagueando como uma pétala a esvoaçar sem lugar certo onde poisar? Com os olhos
inundados com tanta dor, causada pela rejeição, outras vezes pela saudade? Eu
esforcei-me durante anos para te esquecer. Mas aí, vinhas tu com o teu “amo-te
amor”, que me alimentava a ilusão e tudo voltava à estaca zero.
TU
–
Estás a culpar-me por uma coisa que eu nem sabia?
EU
-
Não! Não te culpo de nada. E em relação ao não o saberes, só não o sabes porque
nunca estiveste com atenção aos pequenos detalhes, ás pequenas coisas. Estava
tudo lá. Tu é que nunca viste! Eu mandei indirectas, eu declarei-me várias
vezes. Eu atirava-te ondas de amor com a desculpa de ser como amigo. Bastava
olhares para os meus olhos, e veres como eles brilham quando tu estás perto.
Quando te vejo o meu coração acelera. O meu corpo treme de cima abaixo. E
muitas vezes a minha reacção é fugir. Fugir de ti, e desta sensação de
impotência que muitas vezes se abate sobre mim. Depois de todas as vezes que
fui rejeitado por outras paixões, eu cresci, e jurei nunca me entregar. Eu
sempre pensei que não tivesse sido feito para o amor. Tantas vezes eu me
pergunto: “porque é que eu deixei o meu coração abrir-se para ti?”. Porquê?!?
Eu não queria. Eu juro que eu não queria. Eu nunca quis. Eu apaixonei-me por
ti. Por ti eu mudei. Por ti eu tornei-me outra pessoa. Por ti eu passei a
gostar de coisas que antes eu detestava. Eu aprendi a esperar por ti todos os
dias. E eu esperava com calor no coração. Quando tu dizias que me amavas, que
querias ficar comigo, que eu era a tua vida, a tua paixão, eu ficava inundado
de tanta alegria.
TU
–
Eu também mudei perto de ti. Perto de ti eu aprendi a nunca desistir. Tu
ensinaste-me a lutar. Tu ensinaste-me a amar. Tu ensinaste-me as melhores
coisas da vida, apesar de tudo!
EU
–
Tu fizeste-me descobrir um sentimento que eu tinha dentro de mim e que eu não
conhecia. Mas isso agora não adianta de nada. Se tu não correspondes a nenhuns
dos meus sentimentos? Eu estava a construir uma casinha dentro do meu coração,
mas tu derrubaste todas as fundações. Nós não podemos ligar e desligar os
sentimentos. Se nós pudéssemos controlar os sentimentos era tudo mais
previsível. Durante todos estes anos, eu nunca desisti de ti. Eu amei-te
sempre. Sempre! Eu acreditava que nós íamos ficar juntos. Mas tu desapontavas-me
sempre. E eu ficava perdido, desesperado, eu quase enlouqueci. Eu amo-te. Nunca
deixei de te amar. Nunca. Nem um minuto sequer. Nem um segundo. Mesmo quando tu
destruías os meus sonhos com as tuas confissões amorosas. Lembraste de me teres
dito que bastava quereres que conseguias dar-me a volta e ter de mim tudo o que
querias? Isso só acontecia porque eu te amava. Porque eu não sabia como
convencer-me a virar costas à pessoa que mais amava na vida.
TU
–
Porque tudo isto agora?
EU
–
Porque eu tenho que seguir o meu coração. Aliás era tudo o que eu deveria ter
feito desde o início. O coração tem sempre as respostas certas. Hoje estou
aqui, a seguir o meu coração. Eu gostava que tu acreditasses que o meu amor é
verdadeiro, porque é nisso que eu acredito. Desde que nos conhecemos, desde que
nos separamos… desde sempre. E por isto é que eu esperei por ti. Eu fazia tudo
por ti… só precisava que me amasses um bocadinho. Só um bocado. Mas durante
todo este tempo eu percebi que nós somos aquilo que vivemos. Nós somos os
nossos sentimentos. Se conseguires que o amor seja o grande sentimento do teu
coração, resistes a tudo. Talvez por isso, eu tenha resistido durante tantos
anos, a tudo isto… Porque o amor é a maior força e o maior sentimento.
TU
– Espero
um dia conseguir amar alguém como tu me amaste.
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