Passei os últimos anos da minha vida, à
espera de uma atitude tua que nunca chegaste a tomar. Passei anos da minha vida
a lutar contra uma força muito mais forte que o meu amor por ti. Foi sem margem
para dúvidas, um grande amor. Uma grande paixão, arrisco a dizer, a história
mais marcante da minha vida. Quando chegou por fim, o último minuto que
passamos juntos, quando a partir daquele dia optaste por escolher um caminho
que não o meu, perdi o rumo à vida. O meu coração perdeu a batida, e o cérebro congelou
no frio imenso que a tua indiferença para comigo me trazia dia após dia. Os
primeiros dias, ou até mesmo, as primeiras semanas depois do teu adeus, foram
passados à margem de uma linha ténue, entre o viver e sobreviver. Na verdade,
nem sei como tive força, para conseguir sobreviver, àqueles dias nefastos,
repletos de solidão e de vazio, àqueles dias em que as horas pareciam dias, em
que o telemóvel estava em silêncio, onde nada entrava no nosso mundo, onde por
mais abraços e carinhos que tivéssemos, nada chegava para matar a dor. E a dor,
foi uma companhia, não desejada, foi antes, um sentimento mais forte, que se
impôs à minha vida. Demorou muito tempo a suavizar. Quase tantos anos, como
aqueles que vivi iludido num amor, que afinal, nunca chegou a sê-lo. O meu
coração feriu-se gravemente, e infelizmente, não deveria. O coração além de ser
o nosso motor, é ainda e sempre, o responsável, por tudo o que nos acontece. É
que parecendo que não, é ele que toma as decisões por nós, é ele que nos conduz
diariamente, é ele que nos dá alegria de viver, é ele que nos faz permanecer
neste mundo. Um coração ferido e magoado, pode ser o nosso fim. Se o nosso
coração, não souber bater da forma correcta, se não souber acolher o ar que o
faz bater, se estiver com um golpe, ele sangra, ele sofre, e ao sofrer pode
parar, e se ele parar, a nossa existência termina. Por isso é preciso ter muito
cuidado com o nosso coração. É preciso defendê-lo ao máximo. Cuidar dele, como
se fosse a nossa maior relíquia, e aconchega-lo quando ele está frágil, e com
os batimentos fracos. Não foi nada disto que eu fiz, durante o tempo em que te
amei, talvez, porque este meu coração, não me permitiu agir de outra forma, mas
esforcei-me por conseguir. Gosto de me esforçar, por saber que no final, o
esforço vale a pena, nem que seja por termos aprendido alguma coisa durante
toda a luta. Graças ao amor férreo – hoje talvez o designe com doentio – por
ti, eu entrei numa depressão profunda, refugiei-me dentro de casa a chorar
debaixo das cobertas da cama, a implorar a Deus para me libertar daquela dor, e
principalmente daquele amor, porque já tivera percebido, que eu e tu nunca
seríamos um nós, e conformei-me com o facto de não me amares da mesma forma,
nem na mesma medida. Mas na verdade, reconhecermos esta verdade, é apenas o
começo da luta. Porque depois de aceite esta verdade, vêm outras coisas piores.
A saudade dos momentos passados, das vivências que partilhamos com a pessoa que
idealizamos como a perfeita e o nosso amor imortal, a incógnita de não saber o
porquê de as coisas terem sido desta forma e não de outra, o medo de não
conseguir chegar à meta, e sobretudo a tristeza, de considerar-mo-nos uns
falhados e uns fracos, por não termos conseguido levar a relação avante. Mas
se serve de consolo para algumas pessoas, não devemos pensar desta forma,
porque certamente quando uma relação vê o seu fim, antes do fim do fim, houve
muitas tentativas de a compor certamente, e é dessas tentativas – por mais
falhadas que possam ter sido – que nos devemos lembrar, porque é nas acções
falhadas que praticamos para recuperar aquele amor, aquele sentimento, aquela
pessoa, que entendemos que afinal demos o nosso melhor, e não desistimos à
primeira, que tentamos e fomos à luta, mas que infelizmente a vida fez-nos tomar
rumos diferentes, e aprender a viver de outra forma. Aprender a viver uma nova
vida, é a missão mais intrincada, extasiante e dura, que alguém tem a fazer,
porque somos obrigados a esquecer quem éramos no passado, ter que sarar as
feridas dos tropeções que a vida nos deu, limpar as lágrimas, arranjar forças
de onde nunca imaginamos que elas poderiam sair, e acima de tudo, reconstruir
sonhos e viver realidades que nunca sequer sonhámos ser possíveis acontecer.
Recomeçar uma nova vida, é no fundo aprender a sermos outras pessoas, é
construirmos uma nova personagem, com as lições que a vida nos deu, nunca
esquecendo os valores e princípios que os nossos pais nos deram na nossa
educação enquanto seres humanos. E, depois de noites sem dormir, de dias
sozinho, de choros infinitos, de esperas longuíssimas, de sentir o meu coração
a desfalecer, por não encontrar o norte da minha vida, jurei a mim mesmo, que
após esquecer-te, eu iria fechar o meu coração e deitar a chave fora. Prometi a
mim mesmo nunca mais me apaixonar, e naquela altura pensei mesmo, que o amor
não faz falta a ninguém, principalmente àquelas pessoas, que o amor só arrastou
para abismos, esperas sem fim, e amores não correspondidos, platónicos,
impossíveis e proibidos. Mas o amor, faz sempre falta. Um coração jamais se
sente feliz, realizado e completo, sozinho. Mas quando queremos esquecer a
pessoa que o ocupa fazemos promessas estúpidas, pois sabemos que no coração
ninguém manda. Ele é o dono do nosso corpo, e da nossa alma. É ele que decide
se sim ou se não. Por isso mesmo, quando fiz a promessa estava a pensar no bem
dele, mas o meu coração é tão estúpido, que nunca pensa em mim e no que é
melhor para mim. Mas houve um dia, em que fui capaz de travar a amargura e a
tristeza por uns meros instantes, e decidi que ia mesmo fechar o meu coração, e
ia mesmo jogar a chave fora, não tinha outra alternativa ou fazia isso, ou
morria. O sofrimento do adeus, e de um amor perdido, pode matar, pode fazer
sucumbir o nosso coração, e eu como tenho amor à vida, tive mesmo que travar
estes acontecimentos menos positivos que me preenchiam os dias de solidão,
vazio, espera, frustração e desolação. Depois dessa decisão ainda passei longos
meses à espera que finalmente a vida me desse o presente por eu qual tanto esperava.
Foram meses, em que não vivi... sobrevivi. Meses em que fiquei por casa sozinho a
escrever livros de amor, sempre dedicados a ti, meses em que pouco vi a cor do
céu e o brilho do sol, meses em que as gotas de chuva, não caíram sobre mim,
dias em que a cama foi quem mais me acolheu, em que a televisão foi a minha
distracção, e as páginas de entretenimento da Internet, foram a minha companhia.
Houve dias em que eu nem me apercebi que o tempo se tivera passado. Acordava
via a luz do sol, mas quando voltava a olhar, já o sol tinha trocado de torno
com a lua. Ficava espantado. Não sabia como era possível, uns dias demorarem
uma eternidade a passar, e outros parecendo que apenas meros segundos se
tiveram passado. São coisas da vida que acontecem sem terem uma explicação ou
uma razão para acontecer.
Aquele dia ficará para sempre registado na
minha memória, ainda mais vincado do que o dia em que me disseste “amo-te” pela
primeira vez, o dia em que juraste que iríamos ficar juntos para sempre, e
ainda mais vincado que o dia em que começamos a seguir caminhos opostos, e como
consequência o dia do nosso fim. Este dia será para sempre um dos dias mais
felizes da minha vida, foi o dia em que renasci no mesmo corpo, mas em que a
alma é totalmente diferente, não deixei de ser uma boa pessoa, mas fiquei mais
crescido, mais evoluído, sabes, é uma sensação sem uma mínima explicação. Este
dia é um marco na minha vida, é o dia da viragem, em que o capítulo final do livro é lido, e a contra
capa dele se fecha e fica unida, com a sua capa. Não te sei dizer o que
aconteceu, se foi durante aquelas horas de sono que tudo mudou, ou se foi o
resultado dos meses de luta, para recuperar o normal funcionamento do meu
coração. Na verdade, o que mais me importa é que consegui esquecer-te e
arrancar-te do meu coração, apesar dos dias de solidão, das horas de choro, dos
minutos em que as recordações voltavam, e dos segundos em que algo me pedia
para te voltar a procurar, para tentar mais uma vez, para voltar para ti.
Graças a Deus, não o fiz. Talvez por medo, de nem tu me quereres de volta, mas
não o fiz, desta vez sobrepôs o meu orgulho em cima do meu amor férreo por ti,
e esperei que o tempo resolvesse o que tinha a resolver, deixei com que o tempo
fizesse acontecer o que tinha para acontecer. O tempo tudo cura e tudo muda, é
só deixar-mo-nos levar por ele, como se de uma onda suave se tratasse, e esperar
pelo resultado final. Para quem não quer ser o protagonista da sua própria
vida, aqui está um bom remédio: sentem-se no sofá, apreciem uma boa música,
ocupem o tempo com um desporto, ou assistindo um bom filme, porque enquanto
fazem isto, o tempo está a passar, e a conspirar com o Universo, para o futuro
da nossa vida, e às vezes, sem darmos por isso, até nos surpreendemos com o
resultado final, e ficamos sempre a matutar no mesmo: “Mas como foi que isto
aconteceu?”, “Mas como é que me sinto assim, se ontem estava a cair aos
bocados?”. Há perguntas sem respostas, tal como há amores correspondidos e não
correspondidos. Embora não se saiba, porque é que isto acontece. Não há teoria
alguma que nos permita perceber um pouco sobre estas incógnitas, talvez porque
Deus assim quis. Talvez Deus, não queira que tudo seja transparente, porque
assim a vida perderia piada. Não haveria suposições, intriga, especulação. Foi
no dia em que finalmente te esqueci, que fechei o meu coração, e joguei a chave
fora. E não sei se irei voltar a encontra-la. O futuro, vai fazer-me descobrir,
se sim ou se não. Basta aguardar e saborear a vida, aproveitar esta paz
merecida, beber um bom champanhe, festejar por ter conseguido recuperar o meu
coração e resgatá-lo das mãos de uma psicopata detonadora de sonhos e histórias
com finais felizes.
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