A casa dorme, a aldeia dorme e a própria lua
dormita suspensa de um céu sem estrelas, e eu mergulho nestas linhas com uma
caneta que desejava tivesse os finos contornos de uma pena porque me parece que
seria infinitamente mais romântico escrever com uma, mas divago….
Escrevo enquanto espero um sinal teu, uma prova de que em algum lugar
ainda não me esqueceste… Tornei-me, receio, preso das minhas próprias emoções.
Tenho medo de amar, mas amo, tenho medo de nunca chegar a ter-te, mas escolho
ficar a teu lado e aí permanecerei até que me peças para partir, partilhando o
teu tempo e a tua atenção enquanto mo permitas…
Às
vezes relembro um passado onde a emoção não era ainda a coreógrafa dos meus
dias sempre iguais. Recordo um tempo em que tomei como refém a lucidez ao invés
de me mover ao ritmo do dedilhar da minha loucura. Sempre fui demasiado
racional, demasiado sério. Às vezes pergunto-me se não terei querido crescer
depressa demais. Hoje em dia só queria ser criança e lidar com os afectos de
maneira espontânea, natural… Às vezes gostava que a minha única preocupação
fosse o paradeiro do meu brinquedo preferido, o camião do X-Men que esperava
desembrulhar na véspera de Natal ou o que a mãe diria quando visse mais umas
calças rasgadas e os joelhos de novo esfolados…
Quando desfolho o álbum de fotografias atinge-me a alegria despreocupada
que me emoldurava o rosto, o esboço de alguém ainda imune ao toque da idade e
do tempo. E queria poder refugiar-me para sempre nos olhos azuis marotos, mas
meigos, que me espreitam da moldura e não ter mais de pensar no que sinto e no
que será o futuro.
Há noites em que sonho que me perdi num
deserto, até que ao longe me assalta, a jeitos de miragem, o fantasma de uma
casa, e sei que um dia cruzarei aquela soleira e estarei enfim onde pertenço…
Se ao menos fosses tu a sombra que emoldura a porta…
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