Foram tantos anos complicados. A
minha existência, resumia-se – em tudo! –, somente ao meu sentimento por ti. Um sentimento que me roubou anos de alegrias verdadeiras e sorrisos estridentes e sinceros.
Claro, tive alegrias ao longo destes anos, mas nunca nenhuma delas foi
realmente alegrias… se é que entendes o que te estou a tentar transmitir.
Amei e gostei demais, mas esse não foi o
problema. O maior problema foi o de me ter agarrado demais a ti. Eras só tu o
que eu via à frente. O mundo eras tu. E parece patético dizer que o mundo pode
passar a ser só uma pessoa, mas acredita é exatamente assim quando se ama. Uma
das melhores sensações do mundo, é estares com a pessoa que amas, e não notares
a existência do que há à vossa volta. Foi sempre assim que me senti, em cada
segundo que partilhei ao teu lado. Nada à volta existia. Nada importava. Éramos
só eu e tu.
Tenho saudades do tempo antigo,
acredita. E, de ti, quando te conheci. Tenho saudades do teu olhar profundo,
intenso e misterioso. Esse olhar que me agarrou, me enfeitiçou, me conquistou
por completo. Um olhar límpido, alegre, e acima de tudo sincero. Tenho saudades
da tua voz engraçada. Do teu sotaque ao dizeres ‘um’, ‘não’, ‘chão’, ‘sempre’.
Saudades das inúmeras vezes que te pedi para repetires estas palavras só para
poder sorrir mais uma vez.
Também tenho saudades das mãos
dadas, quando saia das aulas mais cedo – com a desculpa de que tinha que ir
fazer qualquer coisa –, e me sentava contigo naquele banco amarelo, naqueles
dias cinzentos e frios no decorrer do Outono. Tenho saudades da nossa
cumplicidade, da nossa forma de estar um com o outro. Tenho saudades de me
convidares para ir contigo no autocarro. Saudades de quando me pedias para te
ir buscar o almoço fora da escola. Saudades de te ouvir dizer quase em múrmuro
e por entre muitos risos tímidos: ‘amo-te’. Saudades dos passeios, em que me
falavas de ti e das tuas coisas. Saudades de falar contigo de manhã à noite, e
mesmo assim achar pouco tempo. Saudades do meu olhar a cruzar-se com o teu,
logo pela manhã. Quando me vigiavas pelo vidro do autocarro. Tenho saudades de
ti a queixares-te de que ninguém te queria. Saudades dos olhares cúmplices
quando passávamos um pelo outro nos corredores da escola. Saudades de quando as
nossas salas de aulas eram vizinhas e as aulas de Educação Física eram na mesma
hora. Saudades do nosso abraço de ‘pazes feitas’ durante aquele intervalo em
que estava quase a nunca mais te falar. Saudades das tuas infindáveis mensagens
do tipo: ‘não respondes?’, ‘não falas?’, ‘porque não respondes?’… Enquanto me
lembro de tudo de que sinto saudades, dá-me para sorrir. É que sofri, é
verdade. Mas acredita, que também fui muito feliz.
Tenho saudades dos nossos almoços
juntos, das nossas tardes juntos passadas a conversar, saudades do dia em que
no meio de uma brincadeira caímos um sobre o outro e nos rimos de uma maneira
super feliz e sincera. Tenho saudades de discutir contigo por causa das tuas
atitudes incorrectas comigo. Por saberes que eu não gostava, e por continuares
a fazê-las. Nunca pensei que houvesse um fim na nossa ‘amizade’. Nunca. Não no
decorrer deste tempo, de que me estou a relembrar. Saudades de ti a insistires
para fazermos as pazes. Saudades de ti quando me dizias que só eu já te fazia
feliz. Saudades do dia em que tiramos as nossas primeiras fotos. Do dia em que
fomos almoçar à pizzaria e totalmente feliz por estar contigo depois de meses
sem nos vermos, me esqueci de pedir a tua pizza.
Saudades de ti, e de um tempo
perfeito e sinceramente feliz, que infelizmente não mais voltará.
Como podes ver, ainda sei,
relembrar bons momentos. As coisas boas. Porque elas existiram. E só eu sei o
quentinho que sinto dentro de mim quando me lembro disto. E do sorriso sincero
que esboço quando me vejo a viajar por entre estas memórias. Só é de lamentar o
que veio a seguir a tudo isto.
Só posso lamentar o nosso
afastamento. E, o facto de a vida nos ter dado caminhos tão diferentes. Juntos
fazíamos uma boa equipa, e sei, que tu e eu fomos muito felizes neste tempo. Um
tempo em que lutávamos os dois juntos por tudo e por nada. Em que tu eras a
melhor pessoa que alguém poderia encontrar na vida! – e agora, desculpa, mas
umas lágrimas, surgiram no meu olhar…
Essas lágrimas surgem porque é-me
dificílimo entender como é que te transformaste tanto. Como é que quando agora
olho para ti, vejo que te transformaste no avesso daquilo que tu eras. E
acredita, isso é triste demais. Quando gostas de uma pessoa, que já não habita
no corpo que lhe dá a ‘imagem’. As pessoas não são o seu corpo, são a sua alma.
E tu vives no mesmo corpo, mas a alma é que me parece diferente, é isso que te
quero dizer.
E as lágrimas surgem por isto. É
estranha a nossa capacidade de guardarmos, mesmo que inconscientemente, tudo o
que vemos e sentimos aqui dentro de nós. Mais estranha ainda é a forma como
tudo isso nos afeta, mais cedo ou mais tarde. Vem tudo contra nós como se de
uma tempestade imprevisível se tratasse. O pior de tudo é que, estando em alto
mar, ficamos cada vez mais perdidos a cada dia que passa, sem saber como e a
quem pedir ajuda. Sem saber se devemos esperar ou simplesmente atirarmo-nos ao
mar. Estamos sempre a tempo de conhecer as pessoas, e com isso, descobrir que
vamos acabar por perder as jogadas nas quais investimos vezes sem conta, perdas
de tempo. Muitas das vezes, não somos mais capazes de arriscar e investir em
algo da mesma espécie, com receio de que, uma vez mais, percamos a partida.
Mas, como em tudo na vida, não há jogadas perfeitas, muito menos pessoas
perfeitas. Só me pergunto se é preciso subir tão alto para só do cimo cair. Se
é para dar uma queda, que fosse logo da primeira pedra.
Estar longe é diferente de estar
ausente, sabias? Sei isso porque mesmo quando estás longe, eu sinto-te comigo.
Às vezes o mundo parece tão grande que não sei se conseguirei abraçar-te, mas a
verdade é que o tamanho do meu sentimento por ti nunca será suficiente para te
afastar de mim, porque é mais forte que toda a distância que nos possa separar.
E, às vezes penso que, lá porque a vida nos trouxe à mesma estrada, não
significa que chegaremos ao mesmo destino, e tu sabes bem o quanto eu queria
caminhar ao teu lado. Porque no fundo eu sei que lá porque a vida me deu
braços, não significa que te conseguirei agarrar. O destino é traiçoeiro e o
tempo duvidoso, porque quando mais achamos que os temos seguros na palma da
mão, mais eles nos fogem por entre os dedos. Mas eu sempre gostei de um bom
jogo de apanhadas, então eu digo, que se o destino nos quiser fugir e o tempo
nos quiser apanhar, terão muito amor para combater.
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