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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Uma vida por amor



Corri em direção ao lago. Olhei a minha imagem através do reflexo da água. Naquele final de tarde, a chuva voltou em força. As nuvens cobriram o azul infinito do céu. Como uma barata tonta ia andado em círculo à volta do lago. Acabei por me sentar sobre as enormes rochas que dão visão para o mais belo pôr-do-sol. Embora escondido por detrás das nuvens, à medida que o tempo passava.
Dizia para mim mesmo: “tenho medo!”.
Ainda hoje tenho medo. Um medo talvez diferente. Se antes tinha medo que tu nunca me amasses e visses em mim algo mais do que um alguém que conheces e a quem por obra do destino te apeteceu chamar de amor inúmeras vezes, agora tenho medo que nunca te consiga esquecer ou modificar todo este sentimento que nutro por ti e que colocou a minha vida num eterno alvoroço.
O tempo passou é uma verdade. Nem sei como é que passou. Quando páro o meu olhar sobre as águas daquele lago é que vejo que o tempo realmente passou. E eu passei por ele. Passei sobre dias sem sentido, perdido algures dentro dos meus sentimentos, escondido de mim e do mundo, encolhido no vazio e na solidão. Olhando o meu reflexo nas águas do lago questiono-me como é que estou aqui? Eu sobrevivi durante anos à solidão, à tristeza, ao sofrimento, ao amor que nutro por ti e que só me causou mágoas e dor.  O tempo voou e eu voei com ele. Olho ao meu redor e pouca coisa mudou. Olho para ti e tudo se transformou. Não és quem conheci. Sinto-te quase como se nunca te tivesse realmente conhecido. Tenho saudades do nosso início, de ti há cinco anos atrás… saudades daquele tempo, que infelizmente, não mais voltará.
“Não me interessa mais” digo-o, mas dentro de mim existe um misto de sentimentos que dão origem aos batimentos mais fortes que alguma vez o meu coração produziu, ao embrulho no estômago, à sensação de aperto pelo pescoço abaixo.
Sinto-me a sufocar. Quero esquecer tudo, transformar todos os sentimentos, deixar de amar, gostar ou sei lá que mais. E agora tenho medo de nunca deixar de amar. Tenho medo de nunca conseguir pôr um ponto final na história que este coração criou e teima em não querer ver um fim. Vivo em luta constante contra mim mesmo. Eu estou em desacordo comigo mesmo. Eu luto contra mim, contra o que sinto.
E enquanto luto o tempo passa e as coisas dentro de mim não mudam. Com tantas mágoas, desilusões, dor que originaram um sofrimento terrível durante cinco anos, como é possível eu por e simplesmente não conseguir por um fim no que sinto? Porque não muda este sentimento dentro de mim? Como posso passar uma borracha nos meus sentimentos e no meu passado? Como é que faço isso?
E enquanto vou-me questionando o tempo passa e eu vou continuando sem respostas.
“Já dei início à minha caminhada. Já me afastei. Já não falo todos os dias. Já não corro atrás. Já nem visito o Facebook. Que queres que faça mais?”, indago eu com os olhos inundados de lágrimas, enquanto pergunto ao vento e ao céu, aquilo que sei que não tem resposta. Há coisas na vida que vão viver para sempre sobre um enorme ponto de interrogação, e eu sei disso, mas não consigo parar de ficar revoltado com toda esta injustiça e com tamanha falta de sorte.  

Para um pássaro é impossível voar sem asas. Para um peixe é impossível nadar sem barbatanas, para mim era quase impossível viver sem ti. Mas com o tempo, a distância, a tua ausência, fui-me acostumando com isso, e percebi que a vida segue sempre de alguma forma. Mais pesada, menos alegre, mais complexa talvez, mas segue.  Por isso é que agora só tenho medo que nunca te consiga apagar da minha história, porque eu sei que se o conseguir fazer, eu irei conseguir viver e renascer de novo para a felicidade, ou quem sabe, para uma vida cheia de tranquilidade e paz. Tal como a natureza que se encontra ao redor deste lago no qual hoje me vejo através do reflexo destas águas límpidas.

Talvez passe uma vida por amor, ou talvez as coisas mudem…


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