Corri em direção ao lago. Olhei a minha imagem
através do reflexo da água. Naquele final de tarde, a chuva voltou em força. As
nuvens cobriram o azul infinito do céu. Como uma barata tonta ia andado em
círculo à volta do lago. Acabei por me sentar sobre as enormes rochas que dão
visão para o mais belo pôr-do-sol. Embora escondido por detrás das nuvens, à
medida que o tempo passava.
Dizia para mim mesmo: “tenho medo!”.
Ainda hoje tenho medo. Um medo talvez diferente.
Se antes tinha medo que tu nunca me amasses e visses em mim algo mais do que um
alguém que conheces e a quem por obra do destino te apeteceu chamar de amor
inúmeras vezes, agora tenho medo que nunca te consiga esquecer ou modificar
todo este sentimento que nutro por ti e que colocou a minha vida num eterno
alvoroço.
O tempo passou é uma verdade. Nem sei como é que
passou. Quando páro o meu olhar sobre as águas daquele lago é que vejo que o
tempo realmente passou. E eu passei por ele. Passei sobre dias sem sentido,
perdido algures dentro dos meus sentimentos, escondido de mim e do mundo,
encolhido no vazio e na solidão. Olhando o meu reflexo nas águas do lago
questiono-me como é que estou aqui? Eu sobrevivi durante anos à solidão, à
tristeza, ao sofrimento, ao amor que nutro por ti e que só me causou mágoas e
dor. O tempo voou e eu voei com ele.
Olho ao meu redor e pouca coisa mudou. Olho para ti e tudo se transformou. Não
és quem conheci. Sinto-te quase como se nunca te tivesse realmente conhecido.
Tenho saudades do nosso início, de ti há cinco anos atrás… saudades daquele
tempo, que infelizmente, não mais voltará.
“Não me interessa mais” digo-o, mas dentro de
mim existe um misto de sentimentos que dão origem aos batimentos mais fortes
que alguma vez o meu coração produziu, ao embrulho no estômago, à sensação de
aperto pelo pescoço abaixo.
Sinto-me a sufocar. Quero esquecer tudo,
transformar todos os sentimentos, deixar de amar, gostar ou sei lá que mais. E
agora tenho medo de nunca deixar de amar. Tenho medo de nunca conseguir pôr um
ponto final na história que este coração criou e teima em não querer ver um
fim. Vivo em luta constante contra mim mesmo. Eu estou em desacordo comigo
mesmo. Eu luto contra mim, contra o que sinto.
E enquanto luto o tempo passa e as coisas dentro
de mim não mudam. Com tantas mágoas, desilusões, dor que originaram um
sofrimento terrível durante cinco anos, como é possível eu por e simplesmente
não conseguir por um fim no que sinto? Porque não muda este sentimento dentro
de mim? Como posso passar uma borracha nos meus sentimentos e no meu passado?
Como é que faço isso?
E enquanto vou-me questionando o tempo passa e
eu vou continuando sem respostas.
“Já dei início à minha caminhada. Já me afastei.
Já não falo todos os dias. Já não corro atrás. Já nem visito o Facebook. Que
queres que faça mais?”, indago eu com os olhos inundados de lágrimas, enquanto
pergunto ao vento e ao céu, aquilo que sei que não tem resposta. Há coisas na
vida que vão viver para sempre sobre um enorme ponto de interrogação, e eu sei
disso, mas não consigo parar de ficar revoltado com toda esta injustiça e com
tamanha falta de sorte.
Para um pássaro é impossível voar sem asas. Para
um peixe é impossível nadar sem barbatanas, para mim era quase impossível viver
sem ti. Mas com o tempo, a distância, a tua ausência, fui-me acostumando com
isso, e percebi que a vida segue sempre de alguma forma. Mais pesada, menos
alegre, mais complexa talvez, mas segue.
Por isso é que agora só tenho medo que nunca te consiga apagar da minha
história, porque eu sei que se o conseguir fazer, eu irei conseguir viver e
renascer de novo para a felicidade, ou quem sabe, para uma vida cheia de
tranquilidade e paz. Tal como a natureza que se encontra ao redor deste lago no
qual hoje me vejo através do reflexo destas águas límpidas.
Talvez passe uma vida por amor, ou talvez as
coisas mudem…
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