EU – É triste como as coisas acabam assim de repente.
TU – De um momento para o outro…
EU – Estás a ver como é a vida? Num minuto estamos bem, no outro já não
somos nada.
TU – Pois… nós nunca sabemos o tempo que aqui vamos estar. Agora estamos
aqui a conversar e daqui a cinco minutos podemos estar mortos. É a única coisa
que não nos podemos escapar na vida… é da morte. A nossa hora está escrita.
EU – Mas porque é que Deus nos fez tão frágeis?
TU – Para darmos mais valor à vida.
EU – Ninguém dá. Toda a gente convencida que vai viver para sempre.
TU – Oh que asneira. A maioria das pessoas tem um medo horrível da morte.
EU – Medo têm. Mas pensar que ela existe e que de um dia para o outro ela
lhes pode bater à porta, ai isso não pensam.
TU – Desculpa lá, ninguém acorda a pensar que este vai ser o último dia
pois não? O que é que eu vou fazer, o que é que não vou fazer? Se fosse assim
as pessoas não tinham uma vida normal, não achas?
EU – O que eu estou a querer dizer, é que se nós tivessemos mais consciencia
da morte não dávamos importância a coisas tão insignificantes! O que nós
devemos fazer mesmo é valorizar as pessoas. Fazê-las felizes enquanto podemos.
TU – A morte também tem esse condão. Faz-nos reflectir sobre o que é
verdadeiramente importante na vida.
Lembrei-me
muito de ti hoje enquanto assistia a um episódio da novela “Ninguém como Tu”.
Um episódio muito emocionante e que fez com que mais uma vez os meus
pensamentos me levassem a ti. Houve mesmo uma cena em que eu não consegui
conter as lágrimas. A cena em que Milú (interpretada pela grande senhora – já falecida
– Rosa Lobato de Faria), se despede do seu marido Luciano (com quem foi casada
mais de 50 anos) e das filhas Luíza, Dulce e Júlia. Na novela a personagem de
Milú vê a sua vida ceifada depois de um carro entrar em contra mão em plena
auto-estrada e o carro onde Milú seguia bater de frente com o outro carro. Depois
de uma grave hemorragia interna, Milú acaba mesmo por morrer. Chorei por pensar
que amanhã eu posso morrer ou tu podes morrer e nós os dois estámos separados,
afastados, completamente de fora da vida um do outro. Chorei por ver que caso a
morte apareça na minha ou na tua porta, eu não vivi contigo e ao teu lado tudo
aquilo que eu queria viver. Morreria incompleto porque não te amei do jeito que
sonhei, não te tive do jeito que desejei, não estive contigo ou tu comigo até
ao último segundo. E só de imaginar que a morte um dia vai chegar e eu e tu
possamos continuar separados, é uma tristeza e um vazio enorme. Há que
aproveitar a vida, só que não me sinto capaz de a aproveitar a 100% sem ti. Tu
és uma metade de mim, uma parte de mim… tu és importante e fundamental na minha
história. És o amor por quem esperei anos da minha vida, és a pessoa com o
brilho, o cheiro, a voz, o olhar mais inesquecivel do mundo. Tudo me leva a ti,
até uma cena de uma novela!
Aquela
despedida poderá vir a ser a nossa despedida um dia mais tarde. Não é a
despedida que me fez ficar triste, mas sim a certeza de que até à nossa
despedida podemos muito bem nunca mais no falarmos, porque como digo no diálogo
“damos importância a coisas tão insignificantes”, quando aquilo que deveríamos
fazer a cada segundo das nossas vidas era amar quem nos ama, fazer felizes aqueles
que também nos querem fazer felizes, e deixar de parte tudo aquilo que não tem
importancia…
Sei
que não me amas, que provavelmente nem gostas de mim sequer, mas só de ver
aquela cena de novela, onde ocorre uma despedida eterna, fez-me pensar se fosse
eu ou tu a estar no papel de Milú, se não olhariamos para trás e não iriamos
lamentar todas as nossas escolhas e tudo aquilo que vivemos separados, quando a
vida nos deu uma oportunidade de podermos construir um caminho e uma história
repleta de amor, de paz, tranquilidade e muitos bons momentos. Só que as nossas
lutas constantes, as nossas guerras e os nossos sonhos contrários levaram tudo
isso! Mas e se estivesses no papel de Milú e olhassemos para trás? Como seria?
Nós
não temos a vida nas mãos. O tempo voa com maior velocidade que um pássaro em
busca da liberdade, e quando paramos, vemos que o tempo já passou e que
infelizmente, ele é a única coisa que não se recupera, e que ele se gasta cada
vez que um segundo passa… e enquanto o tempo passa, há coisas que também se vão
tornar impossiveis de recuperar, porque ele também já as poderá ter levado
eternamente…
É por isso que também te escrevo este blogue. Porque mesmo que um dia eu morra antes de conseguirmos encerrar a nossa história com o final que ela merece, tu terás este blogue como prova de como nunca te esqueci, e de como te amei...
Rosa Lobato de Faria como Milú em "Ninguém como Tu"
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