Às vezes não
sei quem sou, ando perdido nestas encruzilhadas que a vida me propõe, por vezes
sigo mesmo o caminho errado, somente para me aperceber de que já não me é dada
a oportunidade de trilhar o certo... Aprendi que há coisas que simplesmente não
estão destinadas a acontecer, enquanto outras são simplesmente inevitáveis,
independentemente da minha vontade de querer ou não contrariá-las... Quando a
vida me magoa deixo que a chuva se misture às minhas lágrimas e sigo em frente,
sempre em frente, uma folha jogada no vento, à mercê das suas correntes, com
nada mais que uma ténue esperança de chegar a bom porto. Este sou eu, e estas
as minhas palavras. Parte daquilo que fui, parte daquilo que sou...
necessariamente parte do que serei... Sejam bem-vindos ao meu pequeno mundo de
sonhos e contradições...
Acho que finalmente vou ser capaz de
deixar-te partir. Chorar o passado não me levará jamais a lugar algum. A vida
é, apercebi-me, como um rio que corre sempre na mesma direcção sem jamais andar
para trás.
Ao meu pequeno cais chegam diariamente
inúmeros barcos, transportando pessoas que ora me são especiais ora não
desempenham mais que um papel de figurantes nos meus dias. Houve uma altura em
que quiseste o papel principal nesta peça de teatro em que eu serei o eterno
protagonista e também já houve um tempo em que eu quis que o fosses.
Infelizmente não coincidiram. O acto chegou ao fim, a cortina caiu e a peça
acabou sem palmas para ti. E eu, absorto na falta que me fizeste, não dei pelos
aplausos de quem permanecera comigo.
Tu partiste do meu pequeno porto seguro em
busca de algo que não encontraste em mim noutras paragens. Agora vagueias,
inexoravelmente, à mercê das correntes do rio. Sinceramente não sei se algum
dia voltarás e, a cada dia que passa, aprecebo-me de que a tua memória e todos
os sentimentos que me despertava se esbatem algures dentro de mim.
A
cada dia deste jovem Inverno dou-me conta dos pequenos pormenores que são meus
e que me alegram... a maneira súbtil como uma amiga fala quando me quer
arrancar um segredo, as brincadeiras com o cão e a maneira como amua quando lhe
tocam no pêlo, as piadas, às vezes secas, do meu irmão, que é um melguinha, mas
também um grande amigo.
A vida é feita de ciclos e, por isso, às
vezes também há gente que regressa com a corrente. Tal como não percebo muitas
vezes porque soltam as amarras quando partem, também não compreendo o porquê de
voltarem a ancorar neste meu cais. E o certo é que, de momento, não me
interessa. O que eu sei é que, aos poucos, estas pessoas e outras novas que
cheguem vão ocupando o vazio que deixaste na minha vida... e quem sabe não
chegará em breve alguém para preencher o lugar que deixaste vago no meu
coração...
No fundo eu só quero amar. Quero amar e ser
amado até à loucura, até à eternidade, não por aquilo que queiram ver em mim,
mas por aquilo que sou cá dentro e que nunca muda. Quero um amor de romance, de
novela, daqueles que vencem mil e uma adversidades e vivem felizes para sempre.
Quero olhar para trás ao fim da vida e poder dizer que amei de todo o meu
coração e que não podia ter sido mais feliz. Um dia pensei poder compartilhá-lo
contigo, mas, ao que parece, era simplesmente algo que não estava destinado a
acontecer. Perdi uma oportunidade única talvez, mas outras virão, com outra
pessoa que me consiga tocar de maneira mais profunda. Quem sabe essa pessoa já
não tarda? Quem sabe se já não chegou? Quem sabe não partiu e vai regressar? Só o
tempo... e eu, por ora, não tenho pressa para nada senão para ser feliz,
vivendo um dia de cada vez à espera de um momento que, cedo ou tarde, vai
chegar e mudar a minha vida para sempre... para melhor.
Até amanhã,
meu amor.