TU – Estás com a cabeça noutro
mundo.
EU – É impressão tua.
TU – É nada. Dá para ver que
estás distante.
EU – Estou só a pensar, o quanto
gostava que o meu sofrimento acabasse.
TU – Isso anda demorado.
EU – Passam mais rápido os bons
momentos, do que os maus.
TU – É que a vida às vezes gosta
de torturar os corações, mas logo, logo, ela dá um jeito de nos compensar. Nem
que essa recompensa seja apenas crescer e ficar mais maduro.
EU – Porque é que amar alguém
verdadeiramente tem que doer tanto?
TU – Porque o amor, nem sempre
bate à porta certa, nem o cúpido faz o seu trabalho em condições!
EU – Só espero o dia em que tudo
isto acabe, e possa por fim, ser feliz. Estar em paz comigo mesmo. Sentir o meu
coração livre e solto por aí. Tenho saudades do tempo em que só eu existia na
minha vida. Em que só eu importava. Em que corria feito doido à procura do
melhor cenário para fazer os meus filmes. Eu nunca pedi um amor. Nunca pedi
para aparecer uma pessoa para amar. Nunca pedi para me apaixonar. E porque é
que isto aconteceu?
TU – Porque talvez a tua vida
estivesse a precisar de uma maior agitação, de uma mudança, de ter um novo
sentido.
EU – A vida precisa de mudanças,
é verdade. Mas não de mudanças para pior, e que se arrastam por anos.
TU – Sabes qual é o teu problema?
EU – Não.
TU – Agarraste demasiado às
pessoas. Dás-te muito. Entregaste por inteiro. Não devia ser assim. Por muito
que amemos uma pessoa não lhe devemos mostrar tudo o que somos de uma só vez.
Temos que ser independentes, mesmo apaixonados. Temos que ter uma vida, mesmo
tendo outra vida. Temos que saber ser felizes sozinhos. Temos que estar bem
connosco mesmo. Arranjar maneira de ocupar os tempos mortos, arejar a cabeça,
espairecer o coração, organizar todo o emaranhado confuso que vai dentro de
nós. Não é fácil, ter uma vida independente, estando tão apaixonado como tu
estás. Mas uma coisa é estar apaixonado, outra é deixar de ter vida à espera
que a tua cara-metade se lembre de te preencher esses lugares vazios que a tua
vida tem. Isso só tu o podes fazer. Acredita.
EU – E como é que eu faço isso?
TU – Para o mal dos corações
apaixonados, só há um remédio: viver um dia de cada vez, sem esperar nada do
amanhã. Não é nada difícil, trancas os pensamentos, e pronto. O mal das pessoas
é pensaram demais, não agem por instinto. Agem por tudo o que pensam, nas metas
que querem atingir, na vida que querem ter… e pensam tanto, que acabam por já
nem saber o que pensaram. O que definitivamente querem.
EU – Às vezes penso que nunca
mais isto vai acabar. Que nunca mais vou ser feliz…
TU – A felicidade não existe.
Existem horas extremamente boas. Ninguém é feliz a toda a hora, a tempo
inteiro. Os maus momentos fazem parte da vida, e sem eles, não seriamos quem
somos hoje. Tudo na vida é relativo.
EU – Será que peço demais?
TU – Sim, pedes. E sabes porque
te digo isto? Porque toda a gente quer ser feliz, chora, bate o pé, pergunta
porquê, mas agora eu pergunto: quem se dá ao trabalho de sair de casa e procurar
essa tal felicidade? Ninguém. Ou quase ninguém. Porque preferem ficar a
lamentarem-se e a recordar o passado, invés de sair e procurar um novo futuro!
EU – Eu já nem futuro tenho.
TU – Tens. O dia de amanhã, se
estiveres cá, já vai ser o teu futuro. Eu sei que o amor nos prende, nos
bloqueia, faz com que coage-mos, que vivemos em dúvidas e sobressaltos
constantes, mas a vontade das pessoas conta muito para mudar todas as
situações, e mesmo que a vontade não resulte, temos que acreditar, que um dia as
coisas se vão resolver por elas próprias. Tal como nenhuma felicidade dura para
sempre, um sofrimento também não.
EU – Estou farto disto!
TU – Calma. Um dia o sol vai
virar-se para ti, e sussurrar-te: hoje vai ser o dia de seres feliz, de
começares uma nova etapa. Se ainda estás assim é porque ainda não doeu tudo o
que tinha a doer, ainda não passaste por tudo. E para seguir em frente temos que
passar por tudo, para podermos valorizar o que vem depois…
EU – E o que será que virá
depois?
TU – Um novo futuro. Uma nova
vida. Um novo sentido. Há uns anos atrás não dirias que te ias apaixonar, pois
não? Não saberias que no teu futuro irias viver esta paixão tão desmedida e
incontrolável? Que irias viver todo o sofrimento pelo qual já passaste e
continuas a passar certo? Então, de hoje para amanhã, a vida pode fazer isto
outra vez. Pode fazer-te ter uma nova vida. Basta dares-te uma oportunidade de
viver…
EU – E o que é viver?
TU – Dentro de ti, encontras
todas as respostas. Nós sabemos o que somos. O que valemos. Deixamos é que os
outros interfiram no nosso caminho. Ás vezes esquecemo-nos da nossa valentia, e
enterramos a cabeça à espera que a vida passe. Não pode ser assim. Os problemas
e a vida só se encaram de cabeça erguida.
EU – Já aprendi a encolher os
ombros à vida…
TU – Até ao dia, em que ela venha
e te surpreenda outra vez…
EU – É.
TU – O segredo é viver um dia de
cada vez, não esperar nada. Não ansiar nada. Não querer mais do que se tem.
Tudo o que vier será bem recebido e muito bem vindo, e aprendes a dar valor ao
que vem. E ficaras feliz pelo que veio, porque não estavas à espera de o
receber… Coragem, és um homem de força. Um homem de coragem. És uma vida por
viver. Encontrar-te. Reage. Avança. O jogo vai a meio, mas tu podes conquistar a taça. Porque apesar de
tudo, é essa a tua vontade…
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