É incrível como só damos valor às coisas
que realmente interessam na nossa vida quando as perdemos para sempre. Pensamos
que estarão sempre ali do nosso lado, constantes, a pedra basilar de toda a
nossa vida, a única certeza que nos acompanhará até ao fim. Esquecemo-nos de
lhes mostrar o quão importantes são para nós, e quando nos apercebemos, a nossa
aparente indiferença, a falta de entusiasmo que demonstramos acabam por afastar
as pessoas que nos são mais preciosas. Ninguém espera para a toda a vida. O amor
para sempre não existe, tem que ser alimentado. E talvez aí eu tenha falhado
contigo. É mais fácil amar quando somos correspondidos, ouvi hoje numa série.
Talvez o problema não tenha sido verdadeiramente esse. Eu não iria tão longe ao
dizer que não existia reciprocidade, apenas que só me apercebi realmente da sua
presença quando te foste embora para não mais voltares. Perdi-te sem nunca me
aperceber de que te tinha verdadeiramente. Precisava de me encontrar, de tempo
para me aceitar tal como sou com as minhas parcas qualidades e os meus muitos
defeitos… mas, na minha ânsia de encontrar algo em mim para
gostar não me apercebi de que me fugias a cada segundo, não te dei aquilo que
precisavas, aquilo que querias, e acabei por perder-te sem ter compreendido que
talvez fosses aquilo que eu procurei toda a minha vida. Alguém com quem
compartilhar os meus sonhos, as minhas opiniões, o meu pequeno mundo, estranho
mas especial. Alguém capaz de ver para além da superfície, para além dos meus
defeitos. Infelizmente não te soube reter… sempre perdido no meu cais de
dúvidas, inseguranças e medos… Foste-te embora como uma brisa, de mansinho, e
só me apercebi quando era tarde demais o quanto me importava. E nem sequer te
posso culpar, a culpa foi inteiramente minha. E agora, enquanto contemplo os
restos do meu coração partido espalhados pelo chão pergunto-me… será que vale a
pena tentar colá-los uma vez mais se no fim, inevitavelmente acabarei por
sofrer mais uma e outra vez? Muitas vezes, perdido na minha nostalgia dou por
mim a pensar sobre se valerá a pena sequer tentar lutar contra o destino. Há
pessoas que nascem para ser felizes, independentemente dos erros que cometam
pelo caminho, e outras que simplesmente nascem para sofrer. Quem sabe se não
estarei simplesmente destinado a colar os pedaços somente para que os possam
quebrar vezes sem conta. Mas tudo o que eu sei neste momento é que tenho que
seguir em frente, um dia de cada vez, um passo atrás do outro e aprender a
voltar aos meus silêncios, à tua ausência, à solidão e ao vazio, com alguma
sorte conseguirei alcançar de novo um estado de acalmia em que possa
recompor-me, e, quem sabe, passado mais algum tempo possa voltar a acreditar
que talvez também eu tenho direito a ser feliz, e que o futuro talvez me guarde
algumas surpresas. Não posso desistir agora da esperança, porque quando também
ela se for… aí estarei irremediavelmente perdido…
Gostava que me escrevesses uma carta assim, como esta que eu escrevi.