EU – São estes dias de chuva que
me fazem pensar. Pensar na vida.
TU – É… sabes que é engraçado que
a nossa vontade pouco adianta, de pouco vale para aquilo que o destino quer
para nós.
EU – É verdade. A vida é uma
incógnita e ao mesmo tempo consegue ser irónica. Ela dá tantas voltas que
muitas vezes tu nem podes acreditar onde vieste parar. Depois olhamos para
trás, para o passado, imaginamos todo o futuro que planeamos, e hoje que estamos
a viver esse futuro ele não tem nada a ver com aquilo que nós sonhamos para
ele. E muitas vezes, a culpa nem é nossa. Não foi a nossa vontade, que se
calhar, nos trouxe aqui… Foi o destino!
TU – É disso que eu tenho medo
sabes? As pessoas dizem que nós devemos lutar, que as nossas vontades contam,
mas será que é assim? Será que a nossa vontade consegue ser maior que o
destino? Será que as nossas escolhas conseguem ser maiores que o propósito da
nossa vida? Quantas e quantas vezes tu não olhas para o lado e pensas: “mas eu
não quis isto! Eu queria diferente! Porque é que eu estou aqui?”.
EU – É. Eu também tenho medo. Às
vezes a vida consegue ser maior que nós… mais forte que nós. Nós sonhamos,
imaginamos, e acaba sempre tudo por ser tão diferente.
TU – Qual será o propósito destas
coisas?
EU – Sabes, o que é que eu
aprendi com a vida? Que por mais perguntas que nós tenhamos, por muitas coisas
que nós queiramos descobrir… descobrir o porquê, nós nunca vamos saber. Talvez
um dia, um dia, daqui a uns anos, tu olhes para trás e percebas e digas: “eu
estive ali, eu passei por aquilo, que é uma coisa que eu nunca tinha imaginado
antes passar, para chegar onde estou”. Mas se calhar hoje, também já estás a
imaginar um futuro que vai ser tão diferente como tem sido até agora.
TU – As coisas que às vezes damos
por garantidas, são as que menos o são.
EU – Não há nada seguro na vida.
Tu lutas, tentas conquistar, e a maior parte das vezes, ou não consegues ou
consegues mas tens por pouco tempo.
TU – Não há aquela frase que diz
que a pessoa grita para o mundo: “eu estou feliz” e depois a vida responde:
“LOL, dá-me só uns segundos!”. A felicidade não é eterna. Não é certa. Nem o
amor. Nem a amizade. Nem a confiança. Nem o respeito. Nada… nada é eterno.
EU – Eu acredito que o amor,
assim, de uma maneira talvez fantasiosa, ilusória que seja eterno. Eu acho que
há pessoas que nasceram para se encontrar.
TU – Com tantos desencontros que
a vida te oferece, tu nunca sabes o que é certo, o que é que é para se
encontrar!
EU – Ah, mas eu acredito que o
mundo é pequeno demais para duas pessoas que nasceram para se encontrar! A vida
com as suas voltas, vai sempre dar um jeito de juntar quem nasceu para se
encontrar!
TU – Se a vida quer as pessoas
juntas, para que é que as separa?
EU – Não sei… Talvez porque elas
tenham que aprender alguma coisa antes de finalmente saber onde é o lugar
delas. Talvez as pessoas precisem errar, precisem conhecer lugares errados,
precisem conhecer pessoas erradas, para perceberem que o lugar delas não é ali.
TU – Mas se as pessoas nasceram
para se encontrar, e depois se afastaram… as pessoas já deviam saber que aquela
é a pessoa certa!
EU – Não… nem sempre. Às vezes as
pessoas querem sempre mais, acham sempre que aquela pessoa não é bem aquilo que
foi feito para elas… Porque ao mesmo tempo há pessoas que sabem, olham para uma
pessoa e dizem: “Ok, esta pessoa foi feita para mim!”. Mas depois há outras
pessoas que não conseguem ver isso de primeira, sabes? É estranho, mas é assim.
TU – A vida é tão complicada!
EU – Não sei se é complicada, ou
se nós, de tanto pensarmos nela que a tornamos complicada. Às vezes há coisas
que vale mais a pena não pensar sabes? Por muito duro que seja, por mais
difícil que seja, é melhor nem pensar nas coisas, porque quanto mais tu pensas
e menos respostas tu tens para o que pensas, tu mais te confundes, mais te
baralhas, mais sofres…
TU – Às vezes eu gostava de ser
vidente! Saber o que me vai acontecer daqui a uns tempos. Onde é que eu vou
andar!
EU – Tu vais andar onde tiveres
que andar! Cada pessoa tem a sua história, o seu caminho, e tem o seu tempo.
Cabe às outras pessoas respeitar isso.
TU – É. Por falar em respeito, há
muitas pessoas que não respeitam nada nem ninguém. Mas deveriam respeitar mais
a vida. Há pessoas que acabam por não a
respeitar, querem viver tudo tão intensamente, tão… tão agora, que acabam por
deitar tudo a perder. TUDO.
EU – Engraçado!
TU – O quê?
EU – Enquanto vejo esta chuva
cair, enquanto estou aqui a refletir sobre a vida… o tempo passa… Eu já não sou
a pessoa que eu era há uns anos atrás. Eu mudei.
TU – Toda a gente muda.
EU – Sim. Mas eu mudei, e sei que
foi para pior. Tornei-me numa pessoa muito insegura. Desconfio de quem devia
confiar, e confio em que não devia confiar. É como se eu andasse ao contrário,
percebes?
TU – E porque continuas agarrado
à mesma pessoa de sempre!
EU – Sabes que às vezes, eu páro,
olho p’ró nada e há cenas que eu passei, com essa pessoa, que aparecem à minha
frente, sabes? Momentos, palavras, frases, gestos, olhares… momentos que eu
passei. É como se… se tivesse a passar um filme à minha frente, sabes? Mas é o
filme das cenas que eu protagonizei. Em que eu fui feliz. Em que eu chorei.
Sabes que eu fui à escola, aqui à uns dias, eu passei pelos sitíos onde eu fui
feliz… os sítios que marcaram a minha história, sabes?... A minha vida. Eu não
me lembrei das coisas más. Elas existiram, mas eu só me lembrei das coisas
boas.
TU – O amor é assim. Às vezes
lembra-nos das coisas boas, outras das coisas más… As memórias não são certas.
Um dia pensas numa coisa, no outro já pensas noutra. Um dia estás a lembrar as
coisas boas, no outro as más…
EU – Tudo na vida é uma
incógnita. O amor. O destino. O futuro. Os caminhos. Tudo. E nem vale a pena
tentar desmistificar, se só vivendo dia após dia, se descobrirá, o que houver
para descobrir…